Ministros não veem nada demais no fato de o novo secretário de Mobilidade já ter se envolvido no passado em fraude
Em sua última edição, VEJA publicou uma reportagem revelando um lado desconhecido da biografia do novo secretário Nacional de Mobilidade. Em 2012, o então advogado Tiago Pontes Queiroz vendeu um terreno que não era seu em Pernambuco. Na época, o comprador do imóvel descobriu o golpe e procurou a polícia. Os donos do lote também prestaram depoimento. O advogado acabou indiciado por estelionato. Para não responder ao processo na Justiça, admitiu o crime e concordou em devolver o dinheiro ao comprador — uma marca teoricamente desabonadora para quem vai administrar, a partir de agora, um orçamento de 6,3 bilhões de reais. Mas não nessa nova fase do governo Bolsonaro.
O que antes era considerado um pecado agora é visto de maneira mais leniente. O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, falou sobre a situação de seu subordinado. Para ele, não há nada que impeça o advogado de continuar no cargo. “O importante é que ele tenha idoneidade na hora de desenvolver sua função”, disse o ministro. Tiago e um sócio de seu escritório venderam um lote do tamanho de 11 campos de futebol no valor de 3 milhões de reais . Para realizar a operação, recorreram a um contrato falso. Quando a Polícia Civil de Pernambuco descobriu a fraude, ele foi processado e fez um acordo.
Nomeado pelo notório centrão, Tiago também é investigado por improbidade administrativa. No governo Temer, ele ocupou uma diretoria do Ministério da Saúde, de onde saiu, em 2018, sob a acusação de beneficiar três empresas na compra de remédios. Ao comentar o caso, Rogério Marinho ainda fez uma ressalva curiosa: “O Tiago passou pelo crivo da Casa Civil. Não fui eu que olhei os dados dele”, disse o ministro, eximindo-se de responsabilidade pela avaliação biográfica de seu subordinado. Procurada, a Casa Civil não se pronunciou sobre a nomeação.