HELOÍSA BARRENSE
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS)
O tratamento de pessoas com queimaduras no Brasil terá uma novidade: o uso de um transplante de membrana amniótica, que é uma parte da placenta. Essa técnica ajuda a acelerar a cura das feridas.
Em breve, o SUS vai disponibilizar esse transplante para atender quem sofreu queimaduras. Patrícia Freire, coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), explicou que esse recurso chega para ampliar as opções já existentes, como o transplante de pele.
Este é o primeiro procedimento com membrana amniótica incorporado oficialmente pelas regras do SNT, aprovado em maio e publicado pelo Ministério da Saúde em junho. Após 180 dias desta publicação, o transplante começou a ser oferecido no SUS.
A membrana amniótica é recolhida durante o parto, com autorização das mães que doam. Ela ajuda a acelerar a cicatrização, diminuindo infecções e dores, pois cria uma barreira contra bactérias e outros agentes que causam infecção.
Esse transplante é especialmente útil para queimaduras de segundo grau, ajudando a pele do paciente a se regenerar rapidamente. Ele também pode ser usado para tratar feridas de longa duração, como as causadas por diabetes e úlceras venosas, conforme divulgado pelo Jornal da USP em 2022.
Desafios no transplante de córnea
Enquanto o transplante de membrana amniótica avança, o transplante de córnea enfrenta dificuldades no Brasil. Pesquisa do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) aponta que o tempo de espera dobrou na última década.
Patrícia Freire comentou que o objetivo é alcançar a chamada “lista zero”, que significa que ninguém espera mais de 60 dias para conseguir a cirurgia e entrar na fila do transplante.
Atualmente, o tempo médio de espera para transplante de córnea é de 374 dias. Há dez anos, esse tempo era de 174 dias. Entre os motivos para essa demora estão a falta de reajuste nos valores pagos pelo SUS e os impactos da pandemia de covid-19, que provocou a suspensão de cirurgias eletivas, inclusive transplantes.
Segundo Patrícia Freire, os reajustes já foram feitos e o número de cirurgias está aumentando aos poucos. A expectativa é crescer pelo menos 20% nos transplantes de córnea a partir de 2023.
O sistema brasileiro de transplantes é reconhecido mundialmente por seu alcance em um país tão grande. Esse processo é complexo e caro, envolvendo não só a cirurgia, mas também os cuidados antes e depois do transplante.
Patrícia Freire destaca que o SUS oferece gratuitamente todos os medicamentos necessários para o sucesso do transplante, inclusive os imunossupressores que o paciente deve tomar para o resto da vida. Essa assistência completa é um diferencial importante e raro em outros países.