LUÍSA MONTE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Um tratamento inovador para o câncer de próstata em estágio avançado, quando o câncer se espalha para outras partes do corpo, recebeu aprovação em junho pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Este tratamento combina os medicamentos talazoparibe e enzalutamida e é indicado para pacientes cujo tumor continua crescendo apesar do bloqueio hormonal.
Especialistas afirmam que cerca de 20% dos pacientes desenvolvem câncer metastático resistente ao bloqueio hormonal (mCRPC). Existe ainda uma forma mais grave da doença, o câncer de próstata com mutação no gene responsável pela reparação das células (HRR), que também não responde ao bloqueio hormonal e afeta cerca de 4% dos pacientes, segundo estudos médicos. Essas mutações dificultam a correção das células, agravando o câncer.
Em 2023, 17.093 homens no Brasil faleceram devido ao câncer de próstata, segundo dados do Ministério da Saúde. Este número está quase no mesmo nível das mortes por câncer de mama, que totalizaram 19.103 em 2022, conforme o Inca (Instituto Nacional de Câncer).
O talazoparibe, produzido pela Pfizer com o nome comercial Talzenna, é um inibidor da enzima PARP (poli ADP-ribose polimerase).
A enzalutamida, vendida como Xtandi pela farmacêutica Accord, bloqueia a ação da testosterona e outros hormônios masculinos (andrógenos). Este medicamento já é usado no tratamento padrão para câncer de próstata metastático, assim como Talzenna é utilizado em cânceres de mama e ovário com mutação HRR.
Frederico Leal, oncologista do Hospital das Clínicas da Unicamp, explica que os cânceres de próstata com essa falha na reparação celular tendem a ser mais agressivos e a se espalhar pelo corpo, mesmo após tratamento hormonal. “Esses medicamentos atuam matando as células cancerosas em crescimento”, afirma.
Um estudo publicado em 2023 na revista Nature Medicine mostrou que a combinação dos medicamentos reduziu em 55% o risco de piora da doença e de morte em pacientes com câncer metastático e mutação no gene HRR, em comparação com o uso apenas da enzalutamida e placebo.
O novo tratamento ainda não está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde). Os medicamentos são vendidos separadamente, com um custo aproximado de R$ 40 mil por mês para Talzenna e R$ 10 mil para Xtandi.
Prevenção
O diagnóstico precoce continua sendo a melhor forma de garantir o sucesso do tratamento, destacam os médicos.
Com cerca de 47 mortes diárias por câncer de próstata no Brasil, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomenda que homens a partir dos 50 anos façam consultas regulares com um urologista para rastreamento e diagnóstico precoce.
Para quem tem histórico familiar de câncer de próstata, o acompanhamento deve começar aos 45 anos.
Quando detectado cedo, o câncer pode ser tratado com cirurgia para retirada da próstata ou radioterapia.
Além do novo tratamento com medicamentos combinados, casos avançados ou diagnosticados tardiamente podem ser tratados com quimioterapia ou radiofármacos. Leal afirma: “Hoje, dispomos de muitas opções para combater o câncer de próstata avançado”.