VITÓRIA MACEDO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Cientistas do Instituto de Física de São Carlos da USP desenvolveram um novo exame de saliva que pode facilitar e baratear o diagnóstico da depressão.
Esse novo aparelho é um biossensor que mede a quantidade da proteína BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro), um marcador importante para identificar transtornos mentais e que está relacionado à depressão. O teste consegue reconhecer níveis altos e baixos dessa proteína.
Os exames atuais que detectam a BDNF geralmente são feitos em laboratórios, demoram dias para entregar resultado e são mais invasivos. Segundo o pesquisador Paulo Augusto Raymundo Pereira, um dos criadores do dispositivo, este é o primeiro teste que detecta a proteína na saliva e possui uma ampla faixa de medição.
O sensor capta a concentração da proteína na saliva, o material é analisado pelo dispositivo e os dados são enviados para um aplicativo no celular, computador ou tablet. Paulo Augusto Raymundo Pereira explica que não é necessário nenhum equipamento adicional, bastando apenas instalar o app na loja de aplicativos.
Este teste é descartável e tem custo baixo, com cada tira medidora valendo cerca de R$ 12, conforme o pesquisador.
É importante destacar que o exame não consegue diferenciar uma redução temporária da proteína BDNF de um caso clínico de depressão já estabelecido.
De acordo com Paulo Augusto Raymundo Pereira, o aparelho tem duas utilidades: identificar o nível da proteína para auxiliar no diagnóstico médico da depressão e também monitorar os níveis de BDNF na saliva para verificar aumentos.
O médico pode acompanhar esse aumento para entender se o paciente está respondendo ao tratamento. Isso evita o método tradicional de tentativa e erro com medicamentos que frequentemente causam efeitos colaterais incômodos e levam muitos pacientes a abandonarem o tratamento.
Os testes realizados com humanos mostraram resultados positivos e foram publicados na revista científica ACS Polymers Au.
Os próximos passos para validar clinicamente o teste incluem a produção em maior escala dos dispositivos, aplicação em voluntários já diagnosticados e a aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A fase laboratorial já foi concluída, e está previsto um estudo comparativo.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a depressão afeta atualmente 280 milhões de pessoas mundialmente e é uma das principais causas de incapacidade. Anualmente, mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio, que em 2021 foi a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.