JAIRO MARQUES E PATRÍCIA PASQUINI
FOLHAPRESS
Um remédio inovador, feito a partir da placenta humana, traz esperança para quem sofreu lesão na medula espinhal e perdeu os movimentos do corpo.
A pesquisadora brasileira Tatiana Coelho de Sampaio, da UFRJ, e sua equipe pesquisaram por 25 anos a proteína laminina, que ajuda o sistema nervoso a se regenerar.
Dessa pesquisa nasceu o medicamento chamado polilaminina, apresentado recentemente pelo laboratório Cristália. Ele pode ajudar a recuperar a medula em pessoas que ficaram paralisadas após acidentes.
Nos testes, o remédio foi aplicado diretamente na coluna e alguns pacientes recuperaram totalmente seus movimentos, sem sequelas, retomando suas vidas normalmente.
O laboratório espera autorização da Anvisa para começar estudos clínicos maiores em breve.
A polilaminina estimula células nervosas maduras a se renovarem e criarem novos caminhos para os impulsos elétricos do corpo.
Na apresentação do medicamento, dois voluntários que participaram dos testes estavam presentes. Hawanna Cruz Ribeiro, atleta paralímpica que ficou tetraplégica após uma queda, recuperou até 70% do controle do tronco após o tratamento.
Bruno Drummont de Freitas, que ficou paralisado após um acidente, recebeu o remédio 24 horas depois do trauma e, em cinco meses, já estava totalmente recuperado, vivendo normalmente.
O medicamento também foi testado em cães e ratos, que demonstraram recuperação rápida dos movimentos após a aplicação.
A polilaminina é produzida com placenta de mulheres saudáveis acompanhadas durante a gravidez.
Ogari Pacheco, fundador do Cristália, afirmou que este é um dia histórico para a ciência e para a humanidade, pois acidentes e ferimentos que rompem a medula costumam causar paralisia grave.
Até agora, não existia tratamento efetivo para regenerar o tecido nervoso da medula. Este medicamento, apesar de ainda em testes, pode abrir um novo caminho.
Tatiana Coelho de Sampaio disse que os resultados até agora são animadores e que o apoio e os resultados dos pacientes dão confiança para continuar avançando.
Hospitais em São Paulo já estão preparados para aplicar o remédio assim que a Anvisa liberar, inicialmente em pacientes com lesões recentes.
O tratamento não causa danos colaterais conhecidos e pode beneficiar também casos mais antigos, dependendo do cuidado pós-tratamento do paciente.
Ogari Pacheco destacou que os resultados variam, mas quanto mais cedo o tratamento, melhor o efeito. Casos crônicos também estão sendo estudados.
Especialistas consideram o avanço promissor, mas recomendam cautela e ressaltam que os melhores resultados são em traumas recentes.
O medicamento está em processo de patente, o que pode levar anos. Todos os testes fora do laboratório original confirmaram sua eficácia.
A divulgação completa do estudo está sendo cuidadosamente planejada para proteger a inovação.
Entenda as diferenças entre paraplegia e tetraplegia
Segundo o neurocirurgião Hugo Sterman Neto, paresia é fraqueza dos braços e pernas. Paraparesia é dificuldade parcial nos membros inferiores, tetraparesia atinge braços e pernas.
Plegia indica fraqueza total e falta de movimento. Toda paraplegia ou tetraplegia é um tipo de paresia mais grave, que causa perda do movimento.
Hugo explica que a paraplegia ocorre quando a lesão é na medula da região torácica para baixo; a tetraplegia, quando a lesão está na medula cervical, afetando braços e pernas.
Lesões na medula podem resultar de acidentes, doenças, tumores, fraturas ou envelhecimento.
Hugo afirma que as lesões variam em intensidade e nem todas ocorrem rapidamente; fraturas e luxações com compressão da medula são casos típicos.