PAOLA FERREIRA ROSA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Em 2023, o Brasil registrou cerca de 46,5 mil casos novos de HIV, de acordo com o Ministério da Saúde, e há previsão de que em uma década o país possa chegar a 600 mil novos casos. Além dos comprimidos, a prevenção do HIV agora conta com uma novidade: o Apretude, um medicamento injetável de longa duração, que é o primeiro desse tipo a ser vendido no Brasil e em toda a América Latina.
Produzido pela GSK/ViiV Healthcare, o Apretude foi aprovado pela Anvisa em 2023 e começou a ser vendido no dia 25 de setembro. A aplicação do medicamento é feita a cada dois meses, diferentemente da prevenção tradicional com comprimidos diários.
Este medicamento tem preço sugerido de R$ 4.000 e é distribuído pela empresa Oncoprod.
O princípio ativo, cabotegravir, pertence à classe dos antirretrovirais e atua impedindo que o vírus HIV se fixe e se multiplique nas células do corpo. Por exigir menos disciplina no uso em comparação à PrEP oral, o medicamento pode ser mais eficaz, conforme indicam estudos clínicos.
Roberto Zajdenverg, médico especialista em HIV e coordenador de prevenção da GSK, comentou que este avanço é muito importante. Ele destacou que, embora o medicamento já fosse utilizado em estudos no Brasil, agora é possível adquiri-lo no mercado privado.
A venda do Apretude é feita para farmácias, clínicas e consumidores finais, que podem receber a medicação em casa. Porém, a aplicação deve ser realizada por outra pessoa, pois é uma injeção intramuscular.
Além da facilidade da aplicação a cada dois meses, o tratamento ajuda a preservar a privacidade do paciente, reduzindo a necessidade de transportar comprimidos, o que pode evitar situações de preconceito, destacou o médico.
Assim como a PrEP oral, o cabotegravir é indicado para pessoas que se consideram em risco de contaminação pelo HIV. Roberto Zajdenverg afirmou que médicos devem acolher essas pessoas para oferecer proteção adequada.
É importante que a aplicação do medicamento aconteça apenas com prescrição médica e até sete dias após um teste que confirme resultado negativo para o HIV.
O uso do Apretude é exclusivamente preventivo e não deve ser usado por quem já tem o vírus. O medicamento impede que o HIV entre nas células, diferente do tratamento para quem vive com a doença, que atua em controlar a multiplicação do vírus.
Disponibilidade no SUS
Até o momento, o medicamento pode ser comprado em farmácias e aplicado em clínicas particulares. A fabricante está em negociação com o Ministério da Saúde para que o Apretude possa ser incluído no SUS. Roberta Correa, diretora da unidade de negócios de HIV da GSK Brasil, informou que a submissão para avaliação na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) deve acontecer ainda este mês.
Após a submissão, o remédio passará por avaliação técnica e consulta pública para decidir sobre sua incorporação ao SUS.
Estudos realizados para verificar a segurança e eficácia do Apretude ocorreram em vários países. Na África, os testes foram com mulheres cisgênero, grupo com maior incidência do HIV na região. Em países como Brasil, Estados Unidos, França e Inglaterra, os testes envolveram homens cis e mulheres transexuais, grupos com maior prevalência nesses locais.
Roberto Zajdenverg ressaltou que o Brasil foi o país que mais incluiu pessoas nos estudos, o que resulta em profissionais experientes para manejar o medicamento.
O principal efeito colateral relatado foi dor muscular no local da injeção. Alguns usuários podem sentir náusea ou diarreia, mas a medicação apresenta um padrão de segurança elevado.
Outras opções injetáveis
Existe outro medicamento injetável para prevenção do HIV chamado lenacapavir, produzido pela farmacêutica Gilead Sciences. Um estudo recente avaliou sua segurança e duração, mas ele ainda não foi aprovado pela Anvisa e tem custo elevado, chegando a cerca de 44 mil dólares para duas doses.