LAIZ MENEZES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Um estudo global divulgado no New England Journal of Medicine revelou que uma nova combinação de remédios diminui em até 44% o risco de o câncer de mama avançado, do tipo HER2-positivo, piorar ou causar a morte. Este tratamento é mais eficiente que o protocolo usado por mais de 15 anos.
Pacientes que receberam a combinação de trastuzumabe deruxtecana e pertuzumabe tiveram um tempo médio de 40,7 meses sem que o câncer se agravasse ou voltasse, superior aos 26,9 meses do grupo tratado com o padrão clínico, que inclui taxano, trastuzumabe e pertuzumabe (THP).
O subtipo HER2-positivo representa entre 10% e 15% dos casos de câncer de mama mundialmente, conforme o Instituto Nacional de Saúde dos EUA. Esse tumor se caracteriza pela alta presença da proteína HER2, que incentiva o crescimento das células cancerígenas, tornando o câncer mais agressivo e rápido.
A pesquisa incluiu 1.157 mulheres com câncer de mama metastático HER2-positivo que nunca tinham recebido tratamento para a doença metastática. Elas foram selecionadas em 279 centros de 20 países, incluindo o Brasil, entre 2021 e 2023. As pacientes foram divididas em três grupos: uma combinação nova (trastuzumabe deruxtecana e pertuzumabe), outra com trastuzumabe deruxtecana e placebo (para avaliar o papel do pertuzumabe), e o tratamento padrão.
Dados até fevereiro de 2025 indicam que a taxa de resposta, ou seja, a porcentagem das pacientes que tiveram redução do tumor, foi maior no grupo com a nova combinação (85,1%) comparado ao grupo padrão (78,6%). A desaparecimento total do tumor ocorreu em 15,1% dos casos com o novo tratamento contra 8,5% no grupo controle.
Os resultados do grupo com placebo ainda não foram divulgados. Segundo o oncologista do Hospital Brasília e autor do estudo, Romualdo Barros, a análise estatística considera cada grupo independentemente, o que não prejudica a conclusão.
Os efeitos colaterais foram os esperados para cada medicamento. Reações graves ocorreram em cerca de 63% das pacientes, como baixa contagem de neutrófilos, baixo potássio no sangue e anemia. Doença pulmonar intersticial ou inflamação pulmonar leve apareceu em 12,1% do grupo novo e 1% no grupo padrão.
Embora o câncer metastático seja tratado para controlar a doença e manter a qualidade de vida, sem curar, os novos medicamentos ampliam as opções terapêuticas.
Romualdo Barros destaca que o tratamento paliativo busca controlar a doença, assim como acontece na diabetes ou bronquite crônica, permitindo que alguns pacientes vivam muitos anos com boa qualidade de vida.
Os medicamentos taxano, trastuzumabe e pertuzumabe estão disponíveis pelo SUS, sendo o pertuzumabe usado tanto no tratamento tradicional quanto no novo. Já o trastuzumabe deruxtecana, chamado comercialmente de Enhertu, aprovado pela Anvisa para uso em segunda linha, só está disponível na saúde suplementar.
No novo tratamento, o trastuzumabe deruxtecana combina um anticorpo que reconhece a proteína HER2 com uma molécula de quimioterapia. Essa combinação destrói as células cancerosas de forma direcionada, sem afetar tanto os tecidos saudáveis, explica Barros.
A aprovação para uso como primeira linha depende das empresas fabricantes e das agências regulatórias, como a FDA nos EUA.
Barros ressaltou que o Brasil tem se destacado na participação em estudos internacionais, garantindo acesso precoce a novas terapias e colocando pacientes e pesquisadores brasileiros em igualdade com centros renomados de outros países.
Camilo Campos, gerente médico do Hospital Casa Premium, afirma que os resultados indicam um avanço significativo no controle do câncer de mama HER2-positivo e poderão influenciar as futuras diretrizes de tratamento.
Ele lembra que o estudo ainda não está completo, pois não há dados finais sobre a sobrevida global — o tempo total de vida após o início do tratamento —, já que muitas pacientes permanecem vivas e com a doença controlada.
Mesmo assim, a diferença observada até agora é tão marcante que sociedades médicas avaliam adotar o novo esquema como padrão inicial para este tipo de câncer.
