PATRÍCIA PASQUINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) atualizou a forma como classifica a febre em crianças, baseada em pesquisas internacionais, conforme o documento científico “Abordagem da Febre Aguda em Pediatria e Reflexões sobre a febre nas arboviroses”, publicado recentemente pela entidade.
Antes, no Brasil, febre era considerada quando a temperatura atingia ou ultrapassava 37,8°C. Agora, a SBP define febre a partir de 37,5°C quando medida na axila, ou 38°C se medida pela boca ou pelo ânus, sempre aferida por três minutos.
Tadeu Fernando Fernandes, presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da SBP e autor da diretriz, explica que essa mudança é para estudos clínicos e não indica que a criança deve ser medicada ou levada ao hospital imediatamente.
A febre é uma reação natural do corpo a agentes estranhos, como vírus e bactérias, e não é um sinal direto de doença. É importante avaliar o estado geral da criança para entender o que está acontecendo.
“A febre é uma aliada do corpo, ajudando a defender contra invasores. Ela indica que o organismo está reagindo para proteger a criança, aumentando a imunidade”, esclarece o especialista.
Normalmente, a febre aparece antes de outros sintomas mais específicos. Estima-se que 20% a 30% das consultas em pediatria têm a febre como um dos principais sinais. Além disso, muitas visitas a emergências e atendimentos por telefone referem a febre como motivo principal.
Essa alteração no critério busca reduzir a “febrefobia”, o medo excessivo dos pais que pode levar a consultas e tratamentos desnecessários.
Quando usar antitérmicos?
Não existe um número exato que determine o uso do remédio. Segundo Tadeu Fernando Fernandes, a decisão deve considerar como a criança está se sentindo. Se a criança está com 38,5°C e brincando, não há necessidade imediata de medicá-la. Quando a criança estiver cansada e abatida, aí sim pode ser o momento de cuidar.
Convulsões febris ocorrem somente em crianças com predisposição genética, e não em todas as que apresentam febre.
O documento da SBP recomenda oferecer antitérmicos apenas se a febre vier acompanhada de sinais claros de desconforto, como choro intenso, irritabilidade, apetite reduzido ou sonolência.
No Brasil, os medicamentos indicados são paracetamol, dipirona e ibuprofeno. O ácido acetilsalicílico (AAS) não é recomendado para crianças por risco de síndrome de Reye, uma doença rara e grave.
Evite alternar ou misturar antitérmicos para não causar overdose, pois essa prática não traz benefícios.
Quando buscar atendimento médico?
Mesmo com febre baixa, se a criança apresentar vômitos, diarreia, tosse, respiração difícil, manchas vermelhas pelo corpo, dor de cabeça ou outro sintoma preocupante e estiver quieta e sonolenta, é hora de levá-la ao pronto-socorro.