Com a cerimônia do Prêmio Nobel da Paz 2025 marcada para esta quarta-feira (10/12) em Oslo, aumentam as incertezas sobre a participação da líder da oposição venezuelana María Corina Machado. O Instituto Nobel cancelou, na terça-feira (9/12), uma coletiva de imprensa que seria concedida pela premiada, aumentando o mistério sobre seu paradeiro e a possibilidade de que ela viaje para a Noruega para receber o prêmio pessoalmente.
Aos 58 anos, María Corina está fora de cena há 11 meses, após participar de um protesto em Caracas, e vive na clandestinidade desde agosto de 2024. Vários venezuelanos exilados viajaram para Oslo para apoiá-la, assim como presidentes e líderes conservadores da América do Sul críticos do regime de Nicolás Maduro. A expectativa por sua aparição pública é alta, porém incerta.
O Instituto Nobel confirmou no fim de semana que María Corina Machado estaria presente na cerimônia, que inclui a entrega de uma medalha de ouro, diploma e US$ 1,2 milhão (R$ 6,5 milhões). Porém, após adiar uma entrevista inicialmente agendada para a terça-feira, o órgão anunciou o cancelamento definitivo da coletiva.
“A própria María Corina Machado comentou o quão difícil tem sido viajar para a Noruega. Esperamos que ela compareça”, declarou o porta-voz Erik Aasheim.
Pressão do governo e risco de ser alvo de acusações
O governo de Nicolás Maduro advertiu que a premiada seria considerada “fugitiva” caso deixasse a Venezuela. O procurador-geral, Tarek William Saab, afirma que ela enfrenta acusações como conspiração, incitação ao ódio e terrorismo.
Uma viagem para Oslo geraria também o desafio de garantir sua segurança para um possível retorno ao país.
Líderes do chavismo como o ministro do Interior Diosdado Cabello afirmam não ter informações sobre o paradeiro de María Corina e ironizam a ideia de sua viagem. Enquanto isso, familiares e aliados aguardam em Oslo, alojados no Grand Hotel, local tradicional para os laureados do Nobel. Sua mãe, irmãs e filhos não sabem onde ela está, mas mantêm a esperança de que ela chegue.
Apoio internacional e manifestações em Oslo
Apesar das incertezas, a entrega do Nobel mobilizou uma rede internacional de apoio. Estão confirmadas presenças de presidentes como Javier Milei (Argentina), Daniel Noboa (Equador), Santiago Peña (Paraguai) e José Raúl Mulino (Panamá), críticos do chavismo e próximos à agenda da oposição.
Ao anunciar a premiação, o Comitê ressaltou o “trabalho incansável” de María Corina em defesa da democracia e por uma “transição justa e pacífica” na Venezuela. Em mais de 80 cidades ao redor do mundo, venezuelanos realizaram a “Marcha pela Paz e Liberdade” em apoio à líder.
Javier Milei, um de seus principais aliados regionais, viajou para Oslo acompanhado da irmã e do chanceler, mantendo críticas abertas ao governo de Nicolás Maduro, acusado de fraude eleitoral e repressão.
A entrega do prêmio também gerou protestos em Oslo. Grupos pacifistas noruegueses se manifestaram em frente ao Instituto Nobel com faixas contra a premiação de figuras consideradas belicistas e criticaram a influência dos EUA na América Latina.
María Corina Machado sofre críticas por apoiar operações militares dos EUA na região, que resultaram em mortes em ataques a embarcações denunciadas por Washington como ligadas ao narcotráfico.
No Centro Nobel da Paz, uma exposição dedicada à trajetória da líder destaca a atenção e as reações intensas que sua escolha gerou na Venezuela e no exterior.
Silêncio prolongado e disputas políticas no país
A nova laureada está afastada da vida pública desde janeiro, quando contestou a posse de Nicolás Maduro para o terceiro mandato. Impedida de concorrer nas eleições sob alegações de fraude, ela divulgou registros questionando a legitimidade do processo, acusação rejeitada pelo chavismo, mas reconhecida por parte da comunidade internacional.
No dia da cerimônia, o regime planeja realizar manifestações em Caracas.
A cerimônia ocorrerá às 13h no horário local (9h de Brasília).

