A NetZero, empresa que produz biochar — um tipo de condicionador de solo feito a partir do carbono presente em resíduos agrícolas — começou a construção da sua primeira fábrica voltada para a cana-de-açúcar no Brasil. A unidade fica em Campina Verde, Minas Gerais, e terá um investimento de aproximadamente R$ 15 milhões, com previsão de funcionamento para fevereiro de 2026. Este projeto mostra a ampliação da atuação da empresa, que já produz biochar usando resíduos de café. A nova planta terá capacidade para produzir 4 mil toneladas por ano.
De acordo com Olivier Reinaud, cofundador e diretor da NetZero, a escolha da cana-de-açúcar foi estratégica devido à importância dessa cultura e sua grande presença no país. “A cana-de-açúcar é a maior cultura agrícola do mundo, e o Brasil produz cerca de 40% dela. Se conseguimos mostrar que o biochar funciona tanto para pequenos produtores de café quanto para grandes grupos da cana, estamos provando que nosso método é flexível e adaptável a diferentes realidades”, afirmou à Broadcast Agro, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
A fábrica usará dois tipos de materiais: a palha da cana, fornecida pela Brunozzi Agropecuária, e o bagaço gerado na moagem nas usinas próximas a Campina Verde, no Triângulo Mineiro. Os mesmos produtores que fornecem a matéria-prima também usarão o biochar, formando um ciclo sustentável de produção.
Para a NetZero, o projeto serve como uma demonstração tecnológica. “Após mais de um ano de testes agrícolas com a Brunozzi, observamos aumentos na produtividade superiores a 20% e maior resistência das plantas em períodos de seca, pois o biochar ajuda o solo a reter melhor a água”, explicou Reinaud.
Em termos ambientais, cada plantação de cana pode eliminar aproximadamente 7 mil toneladas de CO2 por ano, superando as 6 mil toneladas das plantas que usam resíduos de café. “A cana traz uma oportunidade maior de expansão, pois existe grande quantidade de resíduos disponíveis. Nosso modelo Gen2 é modular: começamos com 4 mil toneladas e podemos aumentar a capacidade adicionando módulos na mesma unidade”, destacou o diretor.
A NetZero já possui quatro unidades que produzem biochar a partir de resíduos de café, cada uma com capacidade de 4 mil toneladas, totalizando 16 mil toneladas anuais. Com a nova fábrica em Campina Verde, a capacidade irá a 20 mil toneladas, apenas dois anos após a inauguração da primeira unidade. O retorno do investimento é esperado para médio a longo prazo, condizente com projetos industriais. “Esta unidade tem dois objetivos principais: ser o primeiro negócio comercial em larga escala na cana-de-açúcar e também servir como vitrine para outros produtores”, concluiu Reinaud.
A empresa ainda planeja cadastrar créditos de carbono ligados à produção de biochar na cana, como já acontece com o café. “Seremos um dos pioneiros no mundo a produzir biochar de cana em escala, o que nos dará vantagem para fechar parcerias com outros participantes do mercado”, disse Reinaud. A estratégia de expansão deverá alcançar os maiores centros produtores de cana no país, incluindo São Paulo e Goiás, além de Minas Gerais.
Estadão Conteúdo
