De 73 anos, ele é o político que por mais tempo liderou o governo de Israel, com 15 anos divididos em dois mandatos (1996-1999 e 2009-2021)
Após uma passagem pela oposição, Benjamin Netanyahu retorna ao poder em Israel nesta quinta-feira (29), liderando um governo descrito por analistas como o mais à direita da história do país.
Vencedor das eleições legislativas de 1º de novembro, Netanyahu apresentou sua equipe ministerial aos deputados pela manhã, antes de um voto de confiança no Parlamento, onde sua coalizão tem a maioria das cadeiras.
Netanyahu anunciou o ex-ministro da Inteligência Eli Cohen como chefe da diplomacia. Na quarta-feira, ele informou que Yoav Gallant, um ex-oficial próximo ao movimento pró-assentamentos na Cisjordânia ocupada, ficaria com a pasta da Defesa.
A missão do governo será “frustrar os esforços do Irã para adquirir um arsenal nuclear, garantir a superioridade militar de Israel na região e ampliar o círculo de paz” com os países árabes, disse Netanyahu ao Parlamento.
Autoridades da área de segurança expressaram preocupação com o novo governo, assim como os palestinos e algumas capitais ocidentais.
“É um governo dos sonhos para os aliados de Netanyahu”, comentou à AFP Yohanan Plesner, presidente do ‘Israel Democracy Institute’.
“E o sonho de um lado é o pesadelo do outro”, apontou. “Espera-se que este governo leve o país a uma trajetória completamente nova”, acrescentou.
Netanyahu, de 73 anos, é o político que por mais tempo liderou o governo de Israel, com 15 anos divididos em dois mandatos (1996-1999 e 2009-2021).
Mas, confrontado a acusações de corrupção, deixou o poder em 2021 dando lugar a uma coalizão eclética de políticos de esquerda, centristas e partidos árabes liderada por Naftali Bennett e Yair Lapid.
Após as eleições, Netanyahu começou a negociar com partidos ultraortodoxos e de extrema direita, como o Partido Sionista Religioso de Bezalel Smotrich e o Poder Judaico de Itamar Ben Gvir, ambos com um histórico de declarações explosivas contra os palestinos.
No novo governo, Smotrich assumirá o ministério das Finanças e será responsável pela política de colonização na Cisjordânia.
Ben Gvir será ministro da Segurança Nacional e controlará a polícia que opera na Cisjordânia, ocupada desde 1967.
Concessões
Mesmo antes de assumir o governo, a maioria parlamentar aprovou leis para permitir que Aryeh Deri, um importante aliado do partido ultraortodoxo Shas, exercesse o cargo de ministro, apesar de ter admitido crimes fiscais.
Decidiram também ampliar os poderes do ministério da Segurança Nacional.
Neste contexto, o procurador-geral Gali Baharav-Miara alertou para o risco “de politização das forças de ordem”.
E essa não é a única preocupação.
Na segunda-feira, durante um telefonema com Netanyahu, o comandante das Forças Armadas, Aviv Kochavi, manifestou preocupação com a criação de um segundo cargo ministerial na pasta da Defesa para Smotrich, que supervisionará a gestão dos assuntos civis na Cisjordânia.
Aliado de Israel, os Estados Unidos também alertaram que se oporiam a uma expansão dos assentamentos ou a qualquer tentativa de anexação deste território.
Ainda assim, o partido Likud de Netanyahu indicou em seu programa de governo divulgado na quarta que promoverá os assentamentos na Cisjordânia.
Cerca de 475.000 colonos judeus vivem em assentamentos considerados ilegais pela lei internacional.
Analistas consideram que Netanyahu fez grandes concessões à extrema direita na esperança de ganhar imunidade ou o arquivamento de seu processo judicial por suborno, fraude e quebra de confiança.
Mas essas concessões podem incendiar a volátil situação entre israelenses e palestinos.
Ben Gvir visitou várias vezes a Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar mais sagrado do Islã. Sob um status quo histórico, os não-muçulmanos podem visitar o local, mas não orar.
“Se Ben Gvir, como ministro, for à Esplanada das Mesquitas, será uma enorme linha vermelha”, comentou à AFP Basem Naim, uma autoridade do movimento islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza.
Israel e o Hamas travaram uma guerra em maio de 2021. Este ano, outros grupos militantes em Gaza trocaram foguetes e mísseis durante três dias em agosto com as forças israelenses.
E na Cisjordânia, a violência aumentou e muitos temem mais problemas.
“Acredito que se o governo agir de forma irresponsável, pode provocar uma escalada na segurança”, declarou o ministro da Defesa, Benny Gantz, na terça-feira, afirmando estar assustado com a “direção extremista” do novo governo.