Artista traz exposições que retratam a prisão e as viagens pelo mundo
A partir desta quinta-feira (20), o Museu Nacional Honestino Guimarães inaugura duas novas exposições do artista plástico Carlos Vergara. Liberdade retrata a demolição do Complexo Penitenciário Frei Caneca, destino de presos comuns e políticos e local de tortura no período da ditadura de Getúlio Vargas e no regime militar de 1964 a 1985. Sudário traz monotipias em lenços, pinturas, fotografias trabalhadas em 3D real e virtual, vídeos e instalações que têm como tema central as viagens do artista pelo mundo.
Carlos Vergara estreou em 1965, na mostra Opinião 65, junto a outros nomes expoentes da arte brasileira, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Influenciado por Iberê Camargo, as pinturas do artista se aproximavam do neo-expressionismo, que só se tornaria moda na Europa dez anos mais tarde. Durante os anos 70, o foco do artista passa a ser o Carnaval.
Na década seguinte, ele abandona as imagens de festa e vida urbana e começa a estudar monotipias com intervenções próprias no interior de Minas Gerais. As viagens pelo Brasil passam a ser referência nas obras. Os trabalhos contrapõem pinturas delicadas e sem espessura com fortes contrastes cromáticos e acumulação de pigmentos em camadas.
Liberdade
A instalação Liberdade será montada na área externa do Museu. Ela retrata a demolição do Complexo Penitenciário Frei Caneca, onde presos comuns e políticos cumpriram pena e muitos foram torturados no período da ditadura de Getúlio Vargas e durante o regime militar, de 1964 a 1985. A mostra já passou pelo Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói (RJ).
Ela é formada por painéis fotográficos e portas gradeadas das celas Complexo Penitenciário Frei Caneca recolhidas após sua implosão, em março de 2011. A instalação é parte da mostra homônima, inaugurada em 2012, no Parque Lage, no Rio de Janeiro.
O Complexo Penitenciário Frei Caneca, até sua total desativação e demolição, foi um dos mais antigos presídios do país. Criado no período do Império, em 1833, para receber criminosos, mas também servia de instrumento de coerção social ao receber escravos e mendigos.
De 1937 a 1945, no período do Estado Novo de Getúlio Vargas, o complexo recebeu presos políticos, como Olga Benário, Mario Lago e Graciliano Ramos. Em 1964, com a ditadura militar, o presídio voltou a receber presos políticos.
Esta será a última montagem de Liberdade, que culmina sua trajetória em Brasília, entre dois marcos históricos, os 50 anos do golpe de 1964, em 1º de abril, e o fim da ditadura militar, que no dia 15 de março completou 29 anos.
O local onde a instalação Liberdade ficará exposta foi escolhido de forma a que a mensagem seja vista por todos os que frequentam as esferas do poder. Liberdade é um contraponto à Sudário, resultado de várias viagens de estudo do artista pelo país e o mundo. “Afinal, só viaja quem está livre”, afirma Vergara.
Sudário
A exposição Sudário é formada por monotipias em lenços, pinturas, fotografias trabalhadas em 3D real e virtual, fotografias, monotipias em grande formato, vídeos e instalações.
Sudário é um pano que antigamente se usava para limpar o suor. O mais célebre é o Sudário de Turim – uma relíquia cristã que supostamente teria envolvido o corpo de Jesus Cristo.
Não há relação religiosa na mostra. Mas é possível estabelecer relações entre este pano com a ideia do homem andarilho que, ao se colocar em movimento, está aberto às descobertas que ultrapassam a ordem do visível.
Utilizando uma prática já presente em sua obra, a monotipia, Carlos Vergara imprime em lenços vestígios dos diversos territórios por onde passou ao longo de sua carreira. Em Sudário, serão apresentadas obras realizadas em lugares como Índia, Capadócia, Cazaquistão, Londres, Pantanal, São Miguel das Missões e Salvador.
Serviço
Sudário e Liberdade
Local: Museu Nacional – Complexo Cultural da República
Data: de 20 de março a 11 de maio
Visitação: de terça a domingo, das 9h às 18h30
Entrada: gratuita e livre para todos os públicos
Telefones: (61) 3325-5220 e 3325-6410