RANIER BRAGON, RAPHAEL DI CUNTO E VICTORIA AZEVEDO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
Na quarta-feira (6), Hugo Motta (Republicanos-PB) passou por uma situação muito difícil durante seus seis meses como presidente da Câmara dos Deputados.
Em apenas seis minutos, ao sair do seu gabinete para reassumir o comando, ele quase desistiu, foi empurrado para trás da mesa no plenário e ficou visivelmente constrangido após ser forçado por aliados a voltar para a cadeira de presidente.
No caminho, enfrentou resistência de deputados que se recusavam a sair de seus lugares, houve suspeitas de que um parlamentar estava armado e até um bebê no meio da confusão com cerca de 70 pessoas aglomeradas e gritando.
O fim da rebelião, que protestava contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi negociado pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com a oposição, mas o resultado não ocorreu conforme o combinado.
Segundo o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), Hugo Motta deveria deixar o gabinete e reassumir a presidência somente após todos os deputados revoltosos saírem da mesa.
Motta havia prometido que a sessão começaria às 20h30, mas só decidiu se dirigir à cadeira presidencial após as 22h.
A imprensa, inicialmente barrada pela Polícia Legislativa, foi liberada para acompanhar o desfecho no plenário.
Ao deixar seu gabinete, que tem acesso direto ao plenário, Motta foi impedido pelo bolsonarista Zé Trovão (PL-SC), que bloqueava a escada usando a perna.
Foi necessário o apelo de Motta, de outros deputados e de um policial legislativo para que Trovão permitisse a passagem.
Sóstenes revelou que orientou Trovão a bloquear a passagem para evitar conflitos maiores, já que havia o temor de uso da força para retirar os parlamentares.
Havia rumores de que algum deputado bolsonarista poderia estar armado, mas a assessoria de Motta declarou que ele não recebeu essa informação diretamente.
Depois de passar por Trovão, Motta foi parado por Sóstenes, que pedia calma. Ele conseguiu chegar até a cadeira da presidência, mas não conseguiu sentar, pois alguns deputados, como Marcel van Hattem (Novo-RS) e Marcos Pollon (PL-MS), se recusavam a sair da mesa.
Van Hattem explicou que esperavam discutir propostas com os deputados e voltar ao gabinete do Motta para ajustar os acordos, ressaltando que a chegada inesperada de Motta causou desconforto entre os colegas.
No meio da confusão, a deputada Júlia Zanatta (PL-SC) levou sua filha pequena para o centro do tumulto, enquanto cânticos religiosos eram entoados pelo deputado Pastor Sargento Isidório (Avante-BA).
Enquanto bolsonaristas tentavam convencer os deputados a cederem, Motta foi empurrado para o fundo da mesa.
Após alguns momentos, ele ordenou que o policial legislativo abrisse caminho para que ele retornasse ao gabinete, mas aliados e bolsonaristas ficaram descontentes, pois temiam sanções que pudessem suspender seus mandatos. Nesta quinta-feira, Motta afirmou que avaliará imagens para definir possíveis punições.
No caminho de volta, o deputado Hélio Lopes (PL-RJ) o puxou, prometendo retirar os deputados rebeldes da mesa.
Parlamentares como Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Elmar Nascimento (União-BA), Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), Doutor Luizinho (PP-RJ) e Pedro Campos (PSB-PE) ajudaram a empurrar Motta de volta para a cadeira presidencial.
No meio do caminho, ele teve um breve e tenso diálogo com van Hattem, que já estava de pé.
Foram cerca de seis minutos até que o presidente conseguiu sentar na cadeira que estava bloqueada há 30 horas.
Motta, de 35 anos, é o presidente mais jovem da Câmara.
O motim bolsonarista, e a intervenção de Arthur Lira, seu padrinho político e antecessor, levaram muitos a perceberem sua liderança fragilizada.
Aliados criticam a condução da situação por Motta, que hesitou e quase desistiu de continuar à frente da Casa, o que poderia ter prejudicado gravemente sua credibilidade.
Em seu discurso após reassumir a presidência, Motta afirmou que sua presença era para defender “a respeitabilidade desta mesa, que é inegociável” e fortalecer a Casa Legislativa. Ele declarou: “O que aconteceu nesta Casa não foi bom, não condiz com nossa história. O que ocorreu nesses dias não pode ser maior que o plenário.”