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segunda-feira, 20/10/2025

Motta enfrenta conflitos com Lula e bolsonaristas e perde apoio até de aliados na Câmara

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CATIA SEABRA, MARIANNA HOLANDA, RAPHAEL DI CUNTO E VICTORIA AZEVEDO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, terminou o primeiro semestre de seu mandato enfrentando críticas não só da oposição, mas também de aliados e membros do governo de Lula. Questionamentos sobre a seriedade dos acordos feitos por ele e suspeitas envolvendo funcionários fantasmas em seu gabinete têm marcado seu período à frente da Casa.

Embora tenha sido eleito com apoio que abrangia desde o PT até o PL, Hugo Motta não definiu claramente quais seriam as metas de sua gestão. Depois de muita reclamação sobre a ausência de uma agenda consistente, ele tentou se destacar propondo uma reforma administrativa através de um grupo de trabalho criado para esse fim.

O deputado preferiu não comentar os eventos recentes.

Na última quarta-feira (16), Motta sofreu um revés significativo quando o presidente Lula vetou a proposta que aumentava o número de deputados na Câmara, de 513 para 531, uma medida defendida por ele para garantir mais representantes para a Paraíba, seu estado natal.

Fontes próximas ao deputado revelaram que ele ficou bastante insatisfeito com a decisão. Até mesmo apoiadores do projeto consideram improvável que o veto seja derrubado.

Lula não comunicou previamente ao Congresso sobre o veto, o que foi visto como retaliação pela derrubada do decreto do IOF em junho. O governo percebeu a intenção de Motta de apresentar a proposta apenas no dia seguinte, por meio de uma postagem no X (antigo Twitter).

Segundo informações, Motta entrou em contato com a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) para tratar do veto, mas só tomou conhecimento oficial pela imprensa. Assim que soube, deixou o plenário e conversou com Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) no Senado.

A conversa também abordou a decisão do ministro Alexandre de Moraes do STF de validar o decreto presidencial sobre o IOF, atitude que causou descontentamento até entre aliados de Motta, que consideram que ele errou ao não consultar os líderes da Câmara antes de conversar diretamente com o presidente do Senado.

De acordo com um aliado, isso passou a impressão de que ele possui pouca autonomia à frente da Câmara.

De volta à Casa, Motta colocou em pauta um projeto que destina R$ 30 bilhões em crédito subsidiado ao agronegócio, financiado por verbas do pré-sal. O governo criticou publicamente a medida, alegando quebra de acordo, pois negociava uma alternativa com menor impacto financeiro.

Mesmo apoiadores consideraram essa pauta precipitada. Alguns afirmam que isso contradiz a imagem que Motta tenta construir de alguém preocupado com o equilíbrio fiscal e que cobra contenção de gastos do Executivo.

Por outro lado, aliados dizem que ele mantém o respaldo do plenário, não tendo sido derrotado em nenhuma votação e sabendo lidar com as pressões, como evidenciado na discussão sobre a anistia, que não avançou e tem irritado bolsonaristas que exigem solução para os condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023.

O distanciamento entre Motta e Lula ocorreu após um breve período inicial de cooperação, durante o qual participou de eventos no Palácio do Planalto.

O apoio do PT foi fundamental para viabilizar a eleição de Motta, uma articulação conduzida pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira.

Atualmente, o governo reclama do descumprimento de acordos, como a desistência de entregar ao PT a relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026 e mudanças na postura em relação ao aumento do IOF. Motta responde dizendo que nunca se comprometeu com essas medidas.

Além disso, petistas temem que outro acordo seja quebrado: a indicação de um ministro do PT para o Tribunal de Contas da União (TCU).

Por outro lado, o governo celebra o retorno da possibilidade de edição de medidas provisórias, que estavam bloqueadas devido a desentendimentos entre a Câmara e o Senado na gestão anterior.

Aliados de Motta destacam seu apoio a propostas do governo, como o empréstimo consignado para a iniciativa privada, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 e a PEC da Segurança Pública, embora essas duas últimas ainda estejam em fase de comissão.

Boa parte dessas propostas avançou após o governo focar na justiça tributária, o que provocou críticas nas redes sociais petistas contra Motta. O presidente da Câmara protestou com o Planalto, mas mudou de rumo, permitindo que a agenda do governo seguisse na Casa.

A oposição reclama que Motta sinaliza acordos para a anistia, mas ainda não leva o projeto à votação. Também expressaram incômodo com quebras de acordo em votações não negociadas previamente, chegando a ter discussões acaloradas com o presidente da Câmara.

Além disso, há críticas de que não haja uma postura mais firme contra o que consideram invasão de prerrogativas parlamentares pelo STF. Motta, por sua vez, enfatiza que pautou recurso para suspender processo criminal contra o deputado delegado Alexandre Ramagem (PL-RJ).

Uma reportagem revelou a existência de funcionários fantasmas em seu gabinete, prática vista nos bastidores como incompatível com o cargo. Deputados afirmam que isso prejudica a imagem da Câmara.

Apesar disso, oficialmente os deputados mantêm silêncio sobre o assunto. Apenas parlamentares do PSOL pediram publicamente que Motta esclarecesse a situação, ainda que de forma discreta, já que ele anunciou intenção de pautar a cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) após o recesso.

Foi revelado que três assessoras do gabinete têm rotinas incompatíveis com o expediente parlamentar: uma fisioterapeuta que trabalha em clínicas, uma assistente social de prefeitura e uma estudante de medicina que morou seis meses fora do estado.

Motta não comentou as críticas, mas ao final da sessão de quarta-feira (16), agradeceu aos colegas e afirmou que tem se dedicado a atender a todos dentro das suas possibilidades.

“Peço desculpas aos que ficaram desapontados, mas garanto que acordo todos os dias buscando ser melhor e honrado em presidir a Câmara dos Deputados”, declarou.

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