RAPHAEL DI CUNTO, RANIER BRAGON, CAROLINA LINHARES E VICTORIA AZEVEDO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O plenário da Câmara dos Deputados foi ocupado por apoiadores de Bolsonaro, o que só foi resolvido após a intervenção do ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Este evento expôs a fragilidade do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Deputados acreditam que a liderança de Motta ficou enfraquecida, colocando em risco a condução dos trabalhos e seus planos de se reeleger em 2027.
Aliados admitem que Motta esteve perto de perder o controle da Câmara, quase não conseguindo ocupar a presidência.
Ele ameaçou suspender o mandato de quem não permitisse sua presidência e marcou a sessão para as 20h30, mas só conseguiu sentar-se depois das 22h, enfrentando resistência, especialmente do deputado Marcel van Hattem (Novo-RS). Motta só sentou-se após ser apoiado por colegas.
Os interlocutores de Motta dizem que evitaram confronto público para manter a paz na Câmara e que o objetivo foi cumprido com a retomada da presidência e início dos trabalhos.
No entanto, a votação não ocorreu devido à obstrução dos partidos PP e União Brasil, que fazem parte da base de Motta.
Na chegada à Câmara, Motta elogiou a atuação de Lira, descrevendo-o como um amigo que colaborou para acalmar a tensão na Casa e encontrar soluções por meio do diálogo.
Comparando ao Senado, onde o presidente Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) preferiu realizar sessão remota e não retomou o plenário, Motta conseguiu reverter a ocupação da Câmara. Alcolumbre também convenceu os bolsonaristas a desocupar a mesa do Senado.
Alguns membros da Câmara criticaram a postura de Alcolumbre, sugerindo que o Senado deveria oferecer respostas mais firmes ao Judiciário no contexto da crise gerada pela prisão de Bolsonaro.
Motta tentou negociar com os bolsonaristas, afirmando que não cederia à chantagem e que sessões só ocorreriam após a desocupação do plenário. Apesar da cordialidade, as conversas foram difíceis para os bolsonaristas.
O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), deixou a reunião e buscou o apoio de Lira para destravar as negociações, que só avançaram após a intervenção deste último.
Os apoiadores de Bolsonaro protestam contra sua prisão domiciliar, decretada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, e demandam mudanças nas regras do foro especial para retirar processos da jurisdição do STF, além de uma ampla anistia para todos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023.
Lira, o líder do PP, Dr. Luizinho Teixeira (RJ), e o deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) passaram a cuidar das negociações junto aos bolsonaristas, mostrando-se mais promissores do que Motta para esse diálogo.
Motta tentou reunir aliados para retomar o plenário, mas sem sucesso, conduzindo todos a buscar a ajuda política de Lira.
Entre os deputados, a percepção geral foi de que Motta demonstrou fraqueza, prejudicando sua imagem perante colegas e a sociedade.
O presidente da Câmara marcou uma sessão para reafirmar o comando dos trabalhos, visando garantir a tramitação de uma medida provisória importante para a fiscalização dos benefícios previdenciários.
O episódio enfraqueceu ainda mais Motta, que já enfrentava questionamentos por acordos não cumpridos, o que afetou sua relação com o governo Lula (PT).
Integrantes do governo acreditam que o Legislativo deve resolver suas questões internamente, mas acompanharam a situação pelos líderes nas Casas, dado o interesse em destravar votações prioritárias.
Além disso, alguns no governo reconhecem que Motta não conduziu bem a situação, hesitando diante da pressão dos bolsonaristas.
Um aliado de Lula avalia que Motta terá dificuldade para recuperar sua força no plenário e que a atuação de Lira será cada vez mais constante nos bastidores.
Na manhã seguinte, a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) elogiou Motta e Alcolumbre por terem agido corretamente diante do motim da oposição, reafirmando a necessidade de não ceder às chantagens dos apoiadores de Bolsonaro.
Houve críticas à capacidade de Motta de equilibrar divergências entre esquerda e direita, com aliados destacando seu perfil conciliador, embora isso gere críticas de ambos os lados.
Uma fraqueza citada é a falta de recursos oriundos de emendas parlamentares, que ajudam a administrar o plenário, recurso que Lira controlava anteriormente.
Atualmente, Motta não conseguiu destravar o acordo sobre as emendas de comissão, que substituíram as antigas emendas de relator e são alvo de análise do STF.
Tais dificuldades levaram deputados a questionar a capacidade de Motta de se reeleger em 2027, apesar de seu favoritismo por já estar no cargo, abrindo espaço para possíveis concorrentes.
Durante o motim, um dos que mais ajudou nas negociações foi Elmar Nascimento, que era favorito para suceder Lira, mas foi preterido por veto do presidente Lula.