O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), saiu fortalecido após o motim realizado por bolsonaristas que ocuparam o plenário da Casa por dois dias, até a quinta-feira (7/8). Segundo lideranças consultadas, a revolta acabou estreitando os laços de Alcolumbre com a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que o apoiou para recuperar o controle do espaço tomado pela oposição.
Um momento simbólico desse fortalecimento ocorreu ao final da sessão que retomou as votações, quando Alcolumbre deixou o plenário abraçado ao líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP). O abraço também incluiu o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (MDB-AL), outro importante líder governista. O trio seguiu até a presidência da Casa, onde manteve conversa reservada.
De acordo com interlocutores dos senadores, eles juntos fizeram uma avaliação da semana, a qual terminou com a aprovação da Medida Provisória que amplia a isenção do imposto de renda. Alcolumbre esclareceu ainda que não fez e nem faria concessões à oposição em conversas anteriores.
Davi Alcolumbre contou com o respaldo da base de Lula para resistir ao motim e garantiu que não abriria caminho para o pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, uma exigência dos bolsonaristas, que não queriam deixar a Mesa Diretora enquanto o requerimento não fosse discutido.
Na quarta-feira (6/8), com os bolsonaristas ainda no plenário, Alcolumbre afirmou em reunião do colégio de líderes que não pautaria o impeachment de Moraes, mesmo que todos os senadores assinassem o requerimento. Ele ressaltou que a decisão de pautar processos contra ministros é uma prerrogativa exclusiva da presidência do Senado.
Essa fala foi dirigida ao senador Eduardo Girão (Novo-CE), um dos opositores mais vocais. Alcolumbre foi firme ao negar a inclusão do pedido de impeachment na pauta. Além disso, convocou sessão virtual para esvaziar a manifestação e advertiu que qualquer um que permanecesse seria retirado pela polícia antes do início da sessão presencial.
A base governista mostrou apoio ao presidente do Senado. Representantes da oposição solicitaram que Alcolumbre entrasse em contato com o senador Magno Malta (PL-ES), que estava acorrentado à mesa do plenário, mas ele recusou. Diante disso, os bolsonaristas deixaram o local sem possibilidade de votar algum requerimento.
Após reassumir seu posto, Alcolumbre recebeu elogios de senadores que já presidiram a Casa, como Renan Calheiros. Esse cenário foi bem diferente do da Câmara dos Deputados, onde o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), enfrentou dificuldades para retomar o controle da Mesa Diretora, que ainda estava ocupada por deputados bolsonaristas.
Depois dos incidentes, Hugo Motta adotou uma postura firme e encaminhou à Corregedoria da Câmara pedidos para suspender 14 parlamentares envolvidos no motim e em outros episódios ocorridos durante a semana.