GIULIA PERUZZO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Um estudo publicado recentemente na revista científica The Lancet indica que o número de mortes causadas por câncer deve crescer 74% até o ano de 2050. A previsão aponta que aproximadamente 30,5 milhões de pessoas serão diagnosticadas com a doença, e 18,6 milhões podem morrer por complicações relacionadas.
O levantamento levou em conta dados entre 1990 e 2023, período em que os casos de câncer no mundo aumentaram 105,1% e as mortes cresceram 74,3%. Para isso, os pesquisadores usaram registros médicos, números de óbitos e autópsias combinados com análises estatísticas para entender a evolução da doença.
Os especialistas avaliaram 44 fatores que influenciam o câncer, divididos em comportamentais, ambientais e metabólicos. O resultado mostra que os cânceres de traqueia, brônquios, pulmão, cólon, reto e estômago podem ser os que mais matam no futuro.
O principal motivo do aumento é o envelhecimento da população e o crescimento do número de habitantes no mundo. Apesar de a taxa de mortalidade ajustada pela idade ter diminuído, essa queda não foi suficiente para atingir a meta global de reduzir em um terço as mortes por doenças como o câncer até 2030.
Walter da Costa, gerente médico do A.C.Camargo Cancer Center, explica que o câncer é mais comum entre idosos e, com a população vivendo mais, esse problema fica mais evidente. Além disso, o acesso a diagnósticos tem aumentado, enquanto a mortalidade por outras doenças infecciosas diminuiu.
Além do envelhecimento, hábitos como fumar, falta de exercício, má alimentação e obesidade também têm grande impacto. Em 2023, o estudo indica que cerca de 40% das mortes por câncer estão relacionadas a esses fatores que podem ser mudados.
Walter da Costa aponta que políticas públicas podem ajudar a mudar essa situação. Ações para reduzir o tabagismo, combater a obesidade, melhorar a alimentação e alertar sobre os riscos do álcool são exemplos de medidas que podem salvar vidas.
Angélica Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), destaca que várias estratégias já mostraram que podem reduzir o risco de câncer. Ela cita, por exemplo, o exame papanicolau, que eliminou o câncer do colo do útero em países ricos, além da vacina contra HPV. Segundo ela, as formas mais eficazes e baratas de diminuir mortes por câncer são a prevenção e o diagnóstico precoce.
O estudo também revela que a maioria das mortes por câncer ocorre em países com menor renda, que respondem por quase 66% dos casos. Esse problema deve piorar, pois nesses países o envelhecimento ocorre sem que o acesso a tratamentos e tecnologias seja adequado.
Angélica Nogueira afirma que a tecnologia para tratar o câncer existe, mas nem todos têm acesso. Walter da Costa reforça a importância de investir em prevenção e rastreamento na saúde pública, pois prevenir o câncer ou diagnosticá-lo cedo aumenta muito as chances de sucesso no tratamento com custos menores.