Na sexta-feira, foi reunida uma junta médica formada por veterinários, cirurgiões e anestesistas, que optaram pela cirurgia abdominal, que teria o intuito de descobrir a origem da obstrução e corrigir o problema. Yvelise, porém, não resistiu. Ela passou por uma necropsia para determinação das causas da morte. Foi encontrado um fecaloma (massa de fezes endurecidas localizados no reto), que pode ter causado a distensão do cólon, seguida da torção e da necrose. O material coletado vai passar por análises laboratoriais.
Por meio de boletim, a fundação que cuida do zoo afirmou que o caso não tem similaridades com o quadro do elefante Babu, morto em janeiro. No caso de Babu, foi detectada uma intoxicação de origem externa. O zoológico lamentou ainda a morte da girafa, informando que “toda a equipe se encontra sentida com o acontecimento”. A instituição reiterou “o compromisso com o bem-estar animal e com a conservação das espécies com as quais trabalha”. O diretor do zoo não foi encontrado para entrevista.
“Negligência”
Para a presidente da Federação de Animais do Distrito Federal e da Confederação Brasileira de Proteção Ambiental, Carolina Mourão, a morte de Yvelise, assim como a do elefante Babu, é consequência de uma falta de cuidado da instituição com os animais. “Acredito que existe muita negligência no cuidado com os mamíferos do zoológico. A perda de animais está fora da curva da normalidade. A Secretaria de Meio Ambiente e o zoológico jogam a responsabilidade um para o outro e esses animais ficam esquecidos”, afirma.
Carolina avalia que o problema da possível falta de cuidados aos animais ocorre pela “ausência de gestores que se preocupem verdadeiramente com o bem-estar das espécies que vivem no zoológico”. Ela diz que o loteamento de vagas na instituição por parte dos partidos acaba colocando pessoas sem vocação para exercer tais funções. “É um problema político no qual os prejudicados são os animais, pois ficam sem tutela. São profissionais que não são indicados para o cuidado com eles. Não dá para esconder por muito tempo porque os animais começam a morrer.”
Alimentação
A ambientalista denuncia ainda as condições de alimentação das espécies. Carolina afirma haver evidências de que os animais têm alimentação controlada e, eventualmente, reduzida. “Se eles passam fome, não tem como saber se a girafa teve o problema de constipação porque comeu algo que não deveria ou comeu rápido demais quando teve a oportunidade. É inadmissível essa sucessão de mortes no zoo de Brasília”, reclama.
A Confederação Brasileira de Proteção Ambiental move uma ação contra a Fundação Zoológico de Brasília pela criminalização da morte do elefante Babu e promete lutar também por Yvelise. A Justiça deve julgar esta semana um pedido de interdição do zoo.
Carolina Mourão explica que as ações não visam fechar o zoológico, mas modificar o modelo de gestão. “O Zoológico de Brasília tem um modelo de coleção e o ideal é que se torne transitório, no qual os animais da fauna possam receber os cuidados necessários e que possam ser reabilitados para soltura”, defende.
Suspeita de envenenamento
O elefante Babu morreu em 7 de janeiro, aos 25 anos, após uma parada cardiorrespiratória. Existe a suspeita de que o animal tenha sido vítima de envenenamento. Os resultados preliminares dos exames apontam indícios de intoxicação por agentes externos, o que pode ter causado a pancreatite aguda. Nos testes, foram encontrados chumbo, arsênio, mercúrio e elementos cumarínicos (composto químico tóxico ao animal). O zoo afirmou que os elementos não fazem parte da rotina do local e por isso não descarta ação criminosa. O caso é investigado pela Polícia Civil, com colaboração do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente. Problemas genéticos do próprio elefante também estão entre as possíveis causas de morte.