O grande trunfo do governador de São Paulo é a vacina do Butantan, produzida em parceria com os chineses, a CoronaVac
Os candidatos que disputam os votos do chamado centro democrático também podem ganhar com a desistência do ex-juiz Sergio Moro da corrida eleitoral. A começar pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que subiu o tom contra o presidente Jair Bolsonaro por causa da pandemia. O grande trunfo do tucano é a vacina do Butantan, produzida em parceria com os chineses, a CoronaVac. Nesta semana, quanta ironia, a mãe de Bolsonaro tomou a segunda dose do imunizante. Nesta quarta (10/3), o próprio Bolsonaro citou a vacinação da mãe, em entrevista coletiva, na qual deu meio cavalo de pau no negacionismo em relação à pandemia.
Doria está muito contingenciado em São Paulo, pois enfrenta o epicentro da pandemia da covid-19 no Brasil. Ele pode polarizar na crise sanitária com Bolsonaro, mas tem dificuldades de relacionamento político com seu próprio partido e, enquanto a pandemia não acabar, não tem como sair do estado. A candidatura do ex-presidente Lula é uma forte ameaça, porque seu adversário eleitoral conhecido é Fernando Haddad. O governador tucano também reagiu à anulação das condenações do petista, batendo forte na polarização política e defendendo a unificação do centro em torno de uma candidatura. A sua, é claro.
Restam Luciano Huck e Henrique Mandetta (DEM). O apresentador precisa decidir o que vai fazer da vida, porque está em vias de fechar um novo contrato com a TV Globo para substituir o apresentador Fausto Silva nas tardes de domingo e precisaria da audácia de um príncipe de Maquiavel para se lançar na política. Huck tem ambição, mas não tem um projeto nacional articulado organicamente, apoio de setores expressivos do empresariado, nem demonstra interesse em construir um partido político que possa ser uma alternativa de poder. O cavalo selado não vai passar desta vez. Como uma candidatura presidencial não se improvisa, o tempo para que se decida está se reduzindo rapidamente.
Mandetta deixou o governo Bolsonaro com grande prestígio popular, por causa de sua atuação como ministro da Saúde, mas não tem pleno respaldo de seu partido, o DEM, para entrar na corrida presidencial. Precisa andar muito pelo país, o que a pandemia dificulta, e consolidar apoios internos para não ficar sem legenda em 2022. A outra opção é deixar a sigla e procurar abrigo em outra em busca de um postulante competitivo. Sua candidatura depende muito mais da Fortuna do que da virtù, ou seja, de Moro e Huck desistam, Doria fique encurralado em São Paulo e o DEM desembarque da canoa governista.