ANA GABRIELA OLIVEIRA LIMA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, falou nesta sexta-feira (1º) sobre uma semelhança entre as ações realizadas por bolsonaristas no exterior e os atos golpistas ocorridos em 2022 e 2023, como os acampamentos pedindo intervenção militar e o ocorrido em 8 de Janeiro.
Moraes afirmou que essas investidas, incluindo pressão para aumentar tarifas sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos e sanções contra ele e outros ministros, seguem o mesmo jeito de agir dos golpes planejados, segundo a Procuradoria-Geral da República, por uma organização criminosa liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Ele explicou que antes havia pessoas acampando em frente a quartéis e invasões na Praça dos Três Poderes, tudo com a intenção de provocar uma reação das Forças Armadas para tentar um golpe. Agora, o método é o mesmo: incentivar taxas contra o Brasil, criando crise econômica, social e política, gerando instabilidade para tentar outro golpe.
Especialistas ouvidos pela Folha concordam que a atuação de bolsonaristas fora do país tem origem nos mesmos ataques que resultaram no 8 de Janeiro, sendo um recado claro para políticos como Eduardo Bolsonaro, que lidera essas ações nos Estados Unidos.
Os especialistas destacam que esses ataques visam manter a pressão contra ministros e fomentar desconfiança popular nas instituições, agora com apoio internacional e buscando anistia.
Moraes falou durante a abertura do semestre do Judiciário, junto a lideranças como o presidente da corte Luís Roberto Barroso, o ministro Gilmar Mendes, o procurador-geral Paulo Gonet, e o advogado-geral da União Jorge Messias.
Todos defenderam a soberania nacional e a independência do Judiciário, respondendo às recentes sanções dos Estados Unidos contra o Brasil e autoridades, que estão ligadas à pressão para frear a ação penal contra Bolsonaro por tentativa de golpe, incentivada em especial por Eduardo Bolsonaro.
Moraes também citou pressão ao Legislativo, mencionando uma declaração recente de Eduardo Bolsonaro que ameaçou sanções contra os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, caso não aprovem anistia ou impeachment do ministro.
O ministro classificou isso como ameaças diretas e chantagem inconstitucional para tentar garantir uma anistia, destacando crimes de coação, obstrução e ataque à soberania nos quais Eduardo Bolsonaro é investigado por sua atividade no exterior.
Para o doutor em direito Ricardo Yamin, fala de Moraes faz sentido ao mostrar o esforço de movimentar a sociedade contra inimigos políticos e criar desconfiança contra o Supremo.
O advogado criminalista Welington Arruda destacou a semelhança entre os ataques de 2022 e a atual campanha contra o STF, agora com maior ênfase na atuação de Eduardo Bolsonaro fora do país. No entanto, ele lembra que há menos recursos para criar essa instabilidade, pois o governo já não controla a máquina para mobilizar apoiadores.
Arruda vê uma forte tentativa de internacionalizar o conflito político e jurídico com pressão de brasileiros no exterior, e comenta que há sanções econômicas reais prejudicando exportações brasileiras, além de estratégias de mídia para pressionar os ministros nos julgamentos.
Segundo a doutora em direito internacional Elaini Silva, professora da PUC-SP, a ofensiva de Eduardo Bolsonaro e aliados no exterior é uma escalada das ações golpistas anteriores, pois é comum na política do Brasil buscar apoio externo de quem é considerado autoridade moral.
Ela aponta que a diferença desta vez é a tentativa de atacar as leis brasileiras para benefício pessoal, visando escapar da responsabilidade por crimes em um sistema democrático, prejudicando toda a sociedade.