João Pedro Abdo
São Paulo, SP (Folhapress)
Na manhã desta quinta-feira (26), houve uma cerimônia para comemorar a assinatura do acordo entre a Advocacia-Geral da União (AGU) e a família do jornalista Vladimir Herzog. O encontro contou com a presença de Ivo Herzog, filho do jornalista, e do ministro Jorge Messias, da AGU.
O acordo estabelece uma indenização de R$ 3 milhões para a família de Herzog, que foi morto durante a ditadura militar em 1975. Essa medida foi tomada durante uma ação movida por Clarice Herzog, viúva do jornalista, que também passará a receber um pagamento mensal de R$ 34,5 mil.
Messias destacou a importância do acordo para a reparação das famílias das vítimas da ditadura, ressaltando que muitas outras famílias ainda não tiveram a chance de serem compensadas.
“Hoje, assino este acordo que reconhece os direitos da família de Vladimir Herzog, mas sabemos que várias outras famílias não vivenciaram essa oportunidade. Foram muitas. Portanto, simbolizamos aqui a luta da advocacia pela reconquista da dignidade das famílias”, declarou o ministro.
Ele ainda afirmou que este é um processo de humanização, pois a ditadura deixou profundas marcas, uma das mais terríveis é a perpetuação do luto sem fim para os mortos e desaparecidos.
Ivo Herzog comentou que o acordo representa um momento significativo na busca pelo reconhecimento da responsabilidade do governo militar na morte do seu pai.
“A busca por justiça começou há 50 anos, quando minha mãe rejeitou a versão oficial da época sobre a morte do meu pai, que o Estado brasileiro tentou impor”, disse ele.
Vladimir Herzog foi assassinado em 1975 na sede do DOI-Codi, em São Paulo. A versão inicial da ditadura dizia que Herzog teria cometido suicídio na prisão, mas sua família sempre contestou essa narrativa. Ele completaria 88 anos nesta sexta-feira (27).
Ivo também enfatizou que o pedido de desculpas oficial demonstra uma mudança no modo como o Brasil lida com a violência do passado.
“Este pedido de desculpas não é apenas simbolismo. É um ato que nos faz acreditar que o Estado brasileiro atual não compartilha das atitudes daquele período”, afirmou.
Messias qualificou a assinatura como o momento mais relevante de sua gestão e disse que o acordo representa uma mudança profunda da postura das instituições brasileiras.
“Estamos vivendo uma transformação significativa, de um Estado opressor, responsável por violência reconhecida pelo Poder Judiciário e pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. Reiteramos nosso pedido de perdão por todo o sofrimento causado. Há também um compromisso renovado e ético-político de manter viva a luta contínua pela democracia”, concluiu.