Marta Elena Feitó Cabrera, ministra do Trabalho de Cuba, pediu demissão na terça-feira (15/7) após ser alvo de inúmeras críticas por afirmar que não existem mendigos ou pessoas em situação de rua no país, mas sim indivíduos “disfarçados de mendigos”.
Em publicação no X, o gabinete presidencial cubano informou que a ministra admitiu seus erros e apresentou sua renúncia. As declarações de Feitó ocorreram na segunda-feira durante uma sessão perante uma comissão da Assembleia Nacional e geraram grande repercussão em meio à grave crise econômica enfrentada por Cuba.
Ela declarou que as pessoas que parecem mendigos, ao serem observadas de perto, não são realmente indigentes. A ministra acrescentou que muitos que pedem dinheiro nas ruas utilizam os recursos para consumir álcool e criticou ainda aqueles que vasculham lixo para revender materiais sem pagar impostos.
A reação nas redes sociais foi de indignação, com usuários compartilhando imagens que mostram indivíduos em condições precárias. O economista Pedro Monreal ironizou a ministra ao comentar que há pessoas “disfarçadas de ministros” no país.
O líder do regime, Miguel Díaz-Canel, também censurou publicamente as declarações, ressaltando em seu perfil no X que a revolução cubana não pode deixar ninguém para trás e que a falta de sensibilidade diante da vulnerabilidade social é inadmissível. Em sessão parlamentar, o presidente enfatizou que ninguém deve agir com arrogância ou desconexão em relação à realidade social do país e reconheceu que os indigentes refletem as desigualdades sociais existentes em Cuba.
Cuba enfrenta sua pior crise econômica em três décadas, com aumento da vulnerabilidade social, escassez de alimentos, remédios e combustíveis, além de frequentes apagões. Analistas atribuem essa situação ao impacto das sanções dos Estados Unidos e à má gestão econômica interna.
Nos últimos anos, a pobreza extrema tornou-se mais visível, especialmente em Havana, onde a inflação, os baixos salários e a falta de alimentos têm levado a população a recorrer à mendicância ou à busca por alimento no lixo. Anteriormente, o sistema estatal oferecia suporte que minimizava esses problemas, mas essas políticas foram reduzidas recentemente.
Em 2023, o governo cubano estimou que 189 mil famílias e 350 mil pessoas viviam em condições vulneráveis, contando com auxílio social. Essa situação contribui para o êxodo migratório e a diminuição da população da ilha.
As autoridades também informaram que o Produto Interno Bruto (PIB) do país caiu 1,1% em 2024, após uma queda de 1,9% em 2023, totalizando uma retração de 11% em cinco anos. Atualmente, o salário médio mensal é inferior a 20 dólares na cotação paralela, valor insuficiente para suprir as necessidades básicas da população.