Um tribunal de El Salvador sentenciou nesta quinta-feira três antigos comandantes militares a 60 anos de reclusão pelo homicídio de quatro jornalistas holandeses ocorrido há 43 anos, durante a guerra civil que ocorreu no país centro-americano entre 1980 e 1992.
No mês anterior, o Tribunal de Primeira Instância de Dulce Nombre de María, no departamento de Chalatenango, já havia aplicado uma pena de 15 anos para cada ex-comandante. Todavia, ao entregar a sentença por escrito hoje, o tribunal esclareceu que, considerando as quatro vítimas fatais, a pena total corresponde a 60 anos.
A decisão judicial também destaca que os condenados cumprirão, na prática, apenas 30 anos de prisão, conforme o limite máximo estipulado pela legislação vigente na época, segundo informou o advogado das famílias das vítimas, Gustavo Huezo.
Os réus são o ex-ministro da Defesa e general José Guillermo García, de 91 anos; o ex-diretor da extinta Polícia do Tesouro, coronel Francisco Morán, de 93 anos; e o coronel Mario Adalberto Reyes Mena, de 85 anos, que foi comandante da Quarta Brigada de Infantaria sediada em Chalatenango.
Em 17 de março de 1982, os jornalistas holandeses Jan Cornelius Kuiper Joop, Koos Jacobus Andries Koster, Hans Lodewijk ter Laag e Johannes Jan Willemsen foram mortos durante uma emboscada realizada pelo batalhão Atonal em Chalatenango, enquanto produziam um documentário sobre a guerra civil salvadorenha. Os comunicadores trabalhavam para a IKON TV, um canal dos Países Baixos criado por igrejas.
Além da prisão, os militares reformados foram condenados a reparar civilmente as famílias das vítimas. A sentença também ordena que o Estado peça desculpas públicas às famílias, reconhecendo a demora na justiça e que os principais responsáveis pertenciam à cúpula do Exército.
O perdão público deverá ser realizado pelo presidente Nayib Bukele, na função de comandante-geral das Forças Armadas, no prazo máximo de 30 dias úteis.
O caso ficou sem solução por muitos anos até ser reaberto em 2018, após a Suprema Corte de El Salvador declarar inconstitucional a lei de anistia de 1993 relacionada a crimes da guerra civil.
Esse conflito entre o governo e grupos guerrilheiros de esquerda causou cerca de 75.000 mortos e 7.000 desaparecidos, segundo dados oficiais.