Centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas em diversas cidades da França no dia 18 de setembro, para pressionar o primeiro-ministro Sébastien Lecornu a desistir das medidas de austeridade previstas no orçamento para 2026. As manifestações buscam influenciar as decisões do premiê, que assumiu o cargo em 9 de setembro e garantiu que seu governo não será baseado em ‘imobilismo ou instabilidade’.
No início da noite, Sébastien Lecornu afirmou que as reivindicações dos manifestantes por mais justiça social e fiscal estão no centro das discussões iniciadas com forças políticas e sindicais desde sua nomeação. Ele também destacou que manterá o diálogo e pretende receber novamente os sindicatos nos próximos dias.
De acordo com a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), mais de um milhão de pessoas participaram dos protestos em todo o país. Já as autoridades francesas estimam o número em mais de 500 mil, com cerca de 55 mil somente em Paris — número inferior aos 200 mil registrados em 10 de setembro, durante o movimento ‘Vamos bloquear tudo’ convocado pelas redes sociais.
Os protestos foram marcados por incidentes em várias cidades. Segundo a polícia, até as 18h, foram detidas 181 pessoas, sendo 31 em Paris.
Em Marselha, no sul do país, um vídeo divulgado pela AFP mostrou um policial chutando uma manifestante caída, enquanto outro agente a empurrou ao chão novamente. Em Paris, manifestantes lançaram garrafas e sinalizadores contra a polícia.
Em Rennes, os manifestantes atacaram os policiais com objetos no início da passeata. A tropa de choque respondeu com gás lacrimogêneo para dispersar o grupo. Um policial ficou ferido na mão durante a prisão de um membro do black bloc.
Confrontos em Lyon feriram um jornalista da France TV e dois policiais, em confronto com jovens mascarados que lideravam a manifestação.
Setores da educação e transporte foram afetados. Aproximadamente um em cada seis professores de ensino fundamental e médio aderiu à greve, segundo o Ministério da Educação. Foram bloqueadas 23 escolas de ensino médio, com bloqueios parciais em 52 instituições. Cerca de 10% dos servidores públicos também participaram da greve.
Segundo o sindicato estudantil L’Union Étudiante, cerca de 110 mil jovens protestaram, com 14 universidades bloqueadas. No setor cultural, a Opéra Garnier cancelou a apresentação do espetáculo ‘Ariodante’ devido à paralisação.
No transporte, o tráfego foi afetado, mas não bloqueado, conforme o Ministério dos Transportes. A EDF informou redução de carga equivalente a quatro reatores nucleares devido à greve.
Farmacêuticos também participaram do protesto contra a redução dos descontos sobre medicamentos genéricos. O sindicato FSPF relatou que 18 mil farmácias de um total de 20 mil permaneceram fechadas.
Oito centrais sindicais convocaram as manifestações para pressionar o governo do primeiro-ministro. Marylise Léon, secretária-geral da CFDT, a maior central sindical, afirmou que o protesto é um alerta claro ao governo e pediu orçamento com justiça fiscal, social e ecológica.
Hervé Renard, representante sindical da CFTC e operário da construção civil, declarou em Paris que os trabalhadores não têm dívidas e que a dívida estatal não é deles.
“Está difícil no dia a dia. Para lazer, temos que pensar duas vezes”, disse Sonia, professora de 58 anos. Olivier Balosso, também participante, lamentou que as políticas fiscais favoreçam os ricos enquanto os pobres passam fome.
Na noite de quinta-feira, os líderes dos sindicatos CFDT e CGT anunciaram uma reunião para decidir as próximas ações do movimento de greve, com nova manifestação prevista para sexta-feira, cobrando o primeiro-ministro a assumir responsabilidades.
A CGT divulgou comunicado ressaltando que a raiva dos trabalhadores é legítima e crescente, e destacou que o premiê precisa responder rapidamente para evitar novas manifestações.
O governo anterior, liderado por François Bayrou, foi derrubado após uma moção de censura e havia proposto mudanças no seguro-desemprego e no reembolso de gastos médicos, além de outras medidas que os sindicatos esperam que sejam retiradas do orçamento.