ANDRÉ BORGES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O governo do México estabeleceu uma nova regra que obriga os produtores brasileiros de carne e as autoridades do Brasil a detalharem o rastreamento de cada boi ou corte de carne enviados ao país. Essa medida visa garantir um controle sanitário mais rigoroso dos alimentos importados do Brasil.
Segundo informações apuradas, a decisão foi tomada na última semana pelo governo mexicano e deve afetar significativamente as parcerias comerciais entre o México e os produtores brasileiros. Atualmente, o México é o terceiro maior importador da carne brasileira, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos.
O Ministério da Agricultura do Brasil (Mapa) vinha negociando com o México a renovação das autorizações para exportação dos frigoríficos brasileiros. Estava planejada uma auditoria presencial no Brasil para setembro, mas, devido à nova exigência, essa vistoria foi adiada.
A comunicação oficial da mudança veio através do Senasica (Servicio Nacional de Sanidad, Inocuidad y Calidad Agroalimentaria). Para facilitar a adaptação das empresas brasileiras, o México estendeu a validade das autorizações atuais até 15 de janeiro de 2026.
Conforme as novas normas mexicanas, os frigoríficos serão classificados em três categorias: aqueles já autorizados e que cumprirem os novos requisitos poderão realizar auditoria para renovação; aqueles ainda não autorizados, mas que atendem aos critérios, poderão solicitar habilitação; e os frigoríficos atualmente autorizados que não se adequarem, terão a permissão revogada.
O Ministério da Agricultura ainda não comentou a decisão até a publicação desta reportagem.
Essa mudança no comércio com o México segue um padrão semelhante às normas sanitárias aprovadas pela União Europeia, que ainda não estão vigentes. A regulação europeia sobre desmatamento (EUDR), aprovada em meados de 2023, estava prevista para começar em dezembro de 2024, mas, por pressão de países incluindo o Brasil e membros do Mercosul, o início foi postergado por um ano. Grandes empresas têm até 30 de dezembro deste ano para se adequar, enquanto micro e pequenas terão prazo até 30 de junho de 2026.
O Parlamento Europeu e o Conselho da UE concordaram com a proposta da Comissão Europeia para dar mais tempo às companhias e autoridades se prepararem melhor.
Além dos aspectos sanitários, a regra da UE tem como objetivo diminuir o desmatamento e a degradação florestal relacionados às matérias-primas agrícolas importadas para a região.
O México, como terceiro maior consumidor global da carne bovina brasileira, importa cerca de 11 mil toneladas por mês, segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes). Esse volume é superior ao das importações dos 27 países da União Europeia, que compraram 7,4 mil toneladas em maio.
No mês anterior, o México gastou US$ 62 milhões com carne bovina do Brasil, um aumento de 9% em relação aos US$ 57 milhões de abril.
No final de maio, a OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal) declarou o Brasil livre de febre aftosa sem vacinação, o que deve abrir mercados antes inacessíveis para a carne bovina brasileira.
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de carne bovina, atrás apenas dos Estados Unidos, e é líder nas exportações. Em 2023, foram exportadas 2,9 milhões de toneladas, gerando receitas de US$ 12,9 bilhões, segundo a Abiec.
O governo brasileiro, por meio do Mapa, planeja solicitar à China o reconhecimento do país como livre da febre aftosa sem vacinação. Atualmente, a China mantém restrições sanitárias regionais para a carne bovina brasileira, o que limita a retomada completa das exportações. Diferente da carne bovina, as exportações de carne de frango estão suspensas desde 16 de maio devido à gripe aviária, medida que perdura até que o Brasil comprove sua erradicação.