A Adidas, famosa marca de roupas esportivas, enfrenta acusações de uso indevido de elementos culturais indígenas no México. Autoridades do estado de Oaxaca afirmam que um modelo recente de calçado da empresa reproduz um estilo tradicional de sandálias locais, conhecidas como huarache.
O sapato chamado Oaxaca Slip-On, que leva o nome do estado mexicano, foi criado pelo estilista americano de ascendência mexicana Willy Chavarria em parceria com a Adidas. Contudo, o governo local alega que nem a marca nem o designer buscaram permissão ou reconheceram os artesãos originários dessa tradição.
Segundo o deputado mexicano Isaías Carranza, “a Adidas junto com Willy Chavarria utilizou o desenho exclusivo das sandálias típicas da comunidade de Villa Hidalgo Yalalag”, um povoado conhecido por sua rica cultura indígena.
O lançamento das sandálias ocorreu em evento da Adidas em Porto Rico, sendo descrito como uma homenagem às raízes mexicanas de Chavarria. O designer declarou que o huarache sempre simbolizou patrimônio e identidade, e sua intenção foi preservar esse legado.
O governador de Oaxaca, Salomón Jara, declarou em uma coletiva que o modelo é uma releitura das sandálias tradicionais e ameaçou processo judicial contra o estilista, envolvendo representantes da comunidade de Yalalag. Ele enfatizou que tratar uma cultura tão significativa como mercadoria é inaceitável.
A Secretaria de Cultura e Artes de Oaxaca também pediu a suspensão imediata da venda do calçado, abriu diálogo para reparação com a comunidade indígena e solicitou o reconhecimento público da origem do design. Uma possível queixa pode ser encaminhada ao Instituto Mexicano da Propriedade Industrial, órgão responsável pela proteção da propriedade intelectual no país.
A Adidas ainda não se pronunciou oficialmente sobre a controvérsia. O calçado ainda não está disponível para compra no mercado.
Esse caso integra um contexto mais amplo de denúncias no México sobre apropriações culturais não autorizadas. Em 2023, a empresa chinesa Shein foi acusada de usar elementos culturais do povo Nahua, do estado de Puebla, causando prejuízos morais e econômicos à comunidade.
A Secretaria de Cultura do México ressaltou que é crucial chamar atenção para a proteção dos direitos dos povos indígenas, que historicamente foram marginalizados e desconsiderados.
Além disso, outras marcas e estilistas internacionais, como a francesa Isabel Marant e as grifes Zimmermann e Carolina Herrera, também foram acusados nos últimos anos de copiar elementos culturais mexicanos sem autorização.
Em âmbito global, casos similares ocorrem frequentemente, afetando também marcas como a Prada, que enfrentou críticas por oferecer sandálias que muitos consideram cópias de modelos tradicionais indianas Kolhapuri.
Há décadas, povos indígenas e países em desenvolvimento reivindicam leis mais rígidas para proteger seus conhecimentos, práticas e patrimônios culturais tradicionais contra explorações comerciais indevidas. Recentemente, a pressão tem aumentado inclusive em organismos como a Organização das Nações Unidas (ONU) para responsabilizar empresas que cometem tais abusos na indústria da moda.