Segundo relatório interno, companhia fechou 2022 com prejuízo de R$ 1,16 bi; custo com pessoal teve alta de 14,5%, enquanto o nº de usuários não voltou ao nível pré-covid
Com movimento ainda abaixo dos níveis pré-pandemia, a Companhia do Metropolitano do Estado de São Paulo (Metrô) tem amargado resultados financeiros negativos. Segundo relatório interno, a companhia terminou 2022 com prejuízo de R$ 1,16 bilhão e uma taxa de cobertura (relação entre receitas e gastos) de 83%. Ou seja, arrecadou menos do que o necessário para saldar as despesas. O ano passado também terminou com menos passageiros transportados pelo Metrô ante o patamar de 2019. No ano anterior ao início da pandemia, foram pouco mais de 1 bilhão de passageiros. Já em 2022, foram só 794 milhões de passageiros.
Essa queda teve impacto direto nos resultados financeiros da companhia, que enfrentou crise esta semana com a greve dos metroviários. Após despencar de R$ 2,9 bilhões para R$ 1,5 bilhão, entre 2019 e 2020, a receita operacional bruta da companhia se recuperou só parcialmente e fechou o ano passado em R$ 2,2 bilhões. Para uma empresa que depende fundamentalmente da arrecadação da tarifa, o veto à circulação de pessoas e a retração econômica tiveram impactos diretos. O prejuízo de R$ 1,16 bilhão representa aumento de 53,9% em relação a 2021, quando registrou déficit de R$ 759 milhões. Além disso, a tarifa de R$ 4,40 não tem reajuste desde 2020.
A retração seguida da recuperação lenta e que não alcança o patamar pré-covid é uma realidade que se estende ao transporte sobre trilhos de todo o País, segundo o presidente da ANPTrilhos, Joubert Flores. “No auge da pandemia perdemos até 80% dos passageiros, praticamente 80% da receita, e mantivemos o serviço com os mesmos custos”, afirma. “Em todo o País, a demanda hoje é de 75% do que era antes.” Entre as causas, diz Flores, estão o trabalho híbrido e remoto e a perda de renda.
Desempregados têm direito à isenção na tarifa por até três meses. Esses valores que a companhia deixa de arrecadar com essa e outras isenções são subsidiados pelo governo do Estado.
O subsídio, ainda que indireto, acaba sendo necessário para a operação regular do transporte público. “Em São Paulo, uma passagem custa aos cofres do Estado e o serviço é o mais próximo que há no Brasil ao das grandes cidades do mundo”, diz Flores. “É um serviço de utilidade pública, então vai ter dinheiro do Estado.”
Segundo o Metrô, para sustentar a operação, cobrindo os prejuízos decorrentes da queda de arrecadação, o governo de São Paulo injetou R$1,6 bilhão na operação somente em 2020 e mais de R$ 700 milhões em 2021. “Além disso, as empresas adotaram medidas para reduzir despesas gerais, bem como prospectar novos recursos com a geração de receitas não tarifárias”, diz a empresa.
De acordo com o relatório interno, os custos com pessoal tiveram alta de 14,5%, alcançando R$ 1,7 milhão, no ano passado, ante R$ 1,5 milhão em 2021 – principalmente pelo dissídio coletivo de 12,26% aplicado a partir de maio e aos custos associados ao desligamento de 365 funcionários.
Dificuldades financeiras’
Procurado, o Metrô afirma que “durante a pandemia, os transportes metropolitanos passaram por dificuldades financeiras que foram enfrentadas mundialmente por todos os modais”.
A companhia diz ainda que “a demanda chegou a cair 80% se comparada a um dia normal em Metrô, CPTM e EMTU, que pré-pandemia transportavam 10,5 milhões de passageiros/dia”. Para cobrir o déficit, o Metrô fez em 2022 levantamento de R$ 400 milhões em debêntures.
As estratégias recentes para diversificação de receitas incluíram até a venda de naming rights das estações para empresas. No metrô paulista, parte da rede tem gestão privada, caso da Linha 4- Amarela. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.