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domingo, 24/11/2024
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Metas de inflação não deveriam ser o debate do momento, diz Mansueto

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Mudança de meta poderia piorar as expectativas e abrir precedentes, disseram economistas do BTG Pactual nesta quarta-feira; mais cedo, gestores defenderam possíveis alterações

(BTG Pactual/Divulgação)

O debate sobre para onde deve ir a política monetária no Brasil segue intenso. Enquanto parte dos economistas já defende uma possível revisão nas metas de inflação e a possibilidade de trazer os juros para abaixo dos atuais 13,75%, outro grupo bate na tecla de que qualquer mudança neste momento seria arriscada.

Os dois lados foram tema de falas nesta quarta-feira, 15, no CEO Conference, evento organizado em São Paulo pelo BTG Pactual

Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual, apontou que a incerteza sobre o rumo fiscal é um tema central, e que definirá a capacidade de cortar juros mais rapidamente — para ele, metas de inflação “não deveriam ser o debate do momento”. 

“Podemos, mais para a frente, debater como melhorar a eficiência do sistema de metas. Mas esse não é o momento. O que a gente precisa é dar alguma clareza”, disse Almeida.

O economista participou de painel sobre os desafios do ajuste fiscal e inflação ao lado de Eduardo Loyo, sócio do BTG Pactual, Tiago Berriel, estrategista-chefe, e Stefanie Birman, sócia e estrategista do banco. A visão geral dos analistas é que a trajetória de queda na taxa de juro, que ainda não foi iniciada pelo BC, segue incerta.

Loyo, que é ex-diretor do Banco Central, argumentou que o potencial espaço para baixar juros com o aumento das metas de inflação pode desaparecer se houver piora nas expectativas. “A elevação da meta faz com que os analistas privados […] elevem suas expectativas de inflação. O espaço que teria surgido, mantidas as premissas, desaparece”, disse.

Outro risco, para ele, é que o tema foi trazido em meio a discussões sobre a independência do Banco Central. “Misturar esses dois assuntos é especialmente ruim.”

Sem consenso

As falas vão na linha do que tem dito o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que afirmou nesta semana ao Roda Viva, da TV Cultura, ser contra a mudança da meta. “O debate é sempre importante, mas acho que no Brasil a gente não está agora em um período em que seria bom experimentar”, repetiu Campos Neto em entrevista no CEO Conference na terça-feira, 14.

Campos Neto afirmou que o principal objetivo deve ser “melhorar a credibilidade”, embora tenha dito, também, que a decisão sobre as metas caberá ao governo e não é instrumento de política monetária.

Mas não há consenso sobre o assunto. Mais cedo, gestores das renomadas Verde, JGP e SPX disseram no mesmo evento que as metas brasileiras (em 3,25% neste ano e 3% em 2024) podem ter se tornado pouco críveis, em meio à escalada da inflação mesmo nas economias desenvolvidas.

“Ficamos dizendo que nos EUA a inflação será de 3% ou 3,5%, que será 3% na Europa e no Brasil também será 3%? Sejamos sinceros”, afirmou Rogério Xavier, fundador da SPX Capital.

Os gestores pontuaram, por outro lado, que é necessário que o governo apresente rapidamente uma nova regra fiscal. Também nesta quarta-feira, a bolsa subiu após fala do ministro Fernando Haddad, que afirmou que o governo trabalha para antecipar para março a apresentação da regra.

Incerteza fiscal

Berriel, do BTG, disse ser cético em relação a potenciais impactos positivos no âmbito fiscal via redução de juros, caso haja uma mudança na meta de inflação. A tolerância maior a inflação pela mudança na meta seria difícil de acomodar no Brasil porque, segundo ele, se trata de “um país muito indexado, que incorpora muito rapidamente triggers de gastos, quando você tem uma inflação esperada maior”. “Faz pouco sentido a gente ter uma meta maior que outros emergentes.”

Ele afirmou que a dificuldade de cumprir as metas atuais acontece em todos os países, mas isso não faz com que o Fed, banco central americano, discuta mudanças de meta — na casa dos 2% para os EUA, também pouco factível para 2023, com a inflação do país em 6,4%.  “Relativizar a meta para circunstâncias ruins ou tentar minimizar esse custo cria um precedente e ajuda a desancorar as expectativas. Vai tornar a capacidade de desinflacionar da política monetária contracionista menor”, disse.

A melhor notícia, por ora, é que espera-se um déficit fiscal de R$ 100 bilhões a R$ 120 bilhões, em torno de 1% do PIB após a apresentação de primeiras medidas fiscais de Haddad em janeiro, cenário melhor do que os mais de 2% anteriormente estimados, afirmou Almeida. Mas, para o economista, será preciso ir além e avançar em planos de cortes de despesa, e não só em aumento de receita como o governo tem anunciado até agora. “A gente precisa dar clareza de como vai chegar a um superávit de R$ 200 bilhões nos próximos anos, partindo de um déficit de R$ 100 bilhões”, disse.

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