As redes sociais fazem parte do dia a dia dos adolescentes, mas uma nova pesquisa revela que as meninas sentem de forma mais intensa os impactos emocionais causados pelo uso de Instagram, TikTok e outras plataformas. Mesmo reconhecendo efeitos negativos, como pressão estética e comparação constante, muitas mantêm uma visão neutra sobre o uso das redes, dificultando a identificação dos sinais de sofrimento.
Publicado em março na Revista de Comunicación e realizado por pesquisadores da Universitat Pompeu Fabra, na Espanha, o estudo aplicou um questionário a 1.043 adolescentes de 12 a 18 anos para avaliar a percepção dos impactos das redes em diversos aspectos da vida, com respostas variando de 1 a 5, do mais negativo ao mais positivo.
“Diversos estudos indicam que as meninas são mais expostas a conteúdos relacionados à imagem corporal, aparência e relacionamentos, temas muito sensíveis nessa faixa etária. Além disso, elas tendem a ser mais autocríticas e conseguem identificar melhor seus sentimentos”, explica a psicóloga Bianca Dalmaso, do Einstein Hospital Israelita.
De forma geral, o estudo aponta que adolescentes, tanto meninos quanto meninas, possuem percepção neutra sobre as redes sociais: enquanto percebem aspectos negativos, como a pressão pela imagem, os pontos positivos ajudam a compensar os negativos.
Entre os aspectos positivos estão a organização de grupos e a sensação de pertencimento, enquanto o bem-estar recebeu as menores notas.
No entanto, esse olhar neutro pode dificultar uma visão crítica sobre o impacto das redes na vida dos jovens. “Embora tenham certa consciência, essa resposta mais neutra pode ocultar uma acomodação, como se os benefícios compensassem automaticamente os riscos, reduzindo o senso crítico”, destaca Bianca Dalmaso.
A falta de criticidade pode atrapalhar a identificação de sinais de sofrimento relacionados ao uso constante das plataformas. “Quando a comparação, a exposição excessiva e a dependência por validação passam a integrar a rotina, esses efeitos deixam de ser percebidos como problemáticos e são normalizados”, afirma a neuropsicóloga Ana Lucia Karasin, também do Einstein.
Exposição intensa
A exposição frequente nas redes pode aumentar o risco de ansiedade, distorções na autoimagem e até sintomas depressivos, provocando impactos emocionais profundos, especialmente em uma fase de formação da identidade.
Segundo Dalmaso, o uso automático das redes traz diversos riscos: “A busca constante por curtidas pode se tornar uma forma de medir o próprio valor. Além disso, o excesso de comparação afeta a autoestima, causa ansiedade e pode prejudicar o sono e o desempenho escolar. Existe também o risco de normalizar conteúdos tóxicos, como padrões irreais de beleza e discursos agressivos, sem que se perceba.”
Karasin acrescenta que há uma sobrecarga emocional associada à hipervigilância da própria imagem. “As meninas não só consomem mais conteúdos ligados à estética, como também sentem uma pressão contínua para apresentar uma versão ideal de si mesmas nas redes. Essa cobrança silenciosa pode gerar um estado constante de alerta, afetando a autoestima, espontaneidade e a relação com o próprio corpo.”
O uso automatizado também compromete a capacidade de estabelecer limites: “Sem perceber, os adolescentes passam horas diante de conteúdos que nem sempre lhes fazem bem, o que afeta o humor e a qualidade das relações presenciais. Além disso, a falta de reflexão dificulta identificar quando é hora de pausar e desconectar para evitar inseguranças e sentimentos de inadequação”, completa Karasin.
Uso consciente das redes sociais
É possível utilizar as redes sociais de forma mais consciente para minimizar os impactos negativos, tanto para adolescentes quanto para os pais. Para os jovens, é importante refletir sobre o que consomem e como isso os afeta.
Perguntas simples como “Por que sigo este perfil?” ou “Como me sinto depois de navegar?” ajudam a identificar conteúdos que geram comparação ou pressão desnecessária. Também é fundamental reconhecer o momento de fazer uma pausa, lembrando que o que se vê nas redes é apenas um recorte da realidade.
Para os responsáveis, a recomendação principal é manter um diálogo aberto, sem julgamentos, mostrando interesse genuíno pelo que os filhos acompanham e compartilham. Além disso, dar o exemplo ao equilibrar o próprio uso das telas ajuda os jovens a entenderem que o mundo offline merece atenção.
“Criar momentos fora da internet em família e propor atividades ao ar livre reforçam que a conexão mais importante não é a do wi-fi, mas a entre as pessoas”, afirma Bianca Dalmaso.
Estar presente não significa apenas supervisionar ou controlar o acesso das crianças e adolescentes, mas oferecer um espaço seguro para que eles compartilhem suas experiências digitais sem medo ou receio de serem incompreendidos, reforça Karasin.