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quarta-feira, 13/08/2025

Mel do Piauí enfrenta perdas grandes por tarifa e seca

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YALA SENA E JOSÉ MATHEUS SANTOS
TERESINA, PI, E RECIFE, PE (FOLHAPRESS)

Os produtores de mel do Piauí estão passando por momentos difíceis devido a uma seca forte e uma tarifa pesada aplicada pelo presidente Trump, que tem causado grandes prejuízos. A Abemel (Associação Brasileira dos Exportadores de Mel) informa que o Piauí é um dos estados mais afetados por essa tarifa.

A perda estimada chega a entre US$ 40 milhões e US$ 50 milhões até o final do ano, o que pode ultrapassar R$ 200 milhões para os exportadores de mel no Brasil. Os Estados Unidos recebem 51% das exportações brasileiras deste produto.

Nos primeiros dias após a tarifa, produtores piauienses demonstram preocupação e incertezas. Algumas cooperativas estão buscando novos clientes dentro do Brasil para incentivar o consumo nacional e também procuram mercados na Ásia, Europa e Oriente Médio.

O Piauí é o segundo maior produtor de mel do país. Em 2024, exportou cerca de 10 toneladas e movimentou US$ 25,5 milhões, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Luis Henrique Oliveira, jovem apicultor de Itainópolis (PI), relata que o impacto da tarifa ainda é incerto para os pequenos produtores. Ele destaca que o mel é a principal fonte de renda da família e que a safra já foi ruim este ano devido à seca, tendo a tarifa agravado ainda mais a situação, com perdas que podem ultrapassar 50%.

Janete Dias, gerente de uma cooperativa em Simplício Mendes (PI), confirma que a seca diminuiu a produção e que os impactos da tarifa serão sentidos em novembro. Ela representa 292 cooperados familiares e afirma que, apesar da dificuldade, não há pedidos parados por falta de matéria-prima, embora tenham enviado menos contêineres de mel que o previsto.

Sitônho Dantas, presidente da maior cooperativa apícola do país, Casa Apis, conseguiu negociar com clientes internacionais para que eles assumam a tarifa até dezembro, mantendo os contratos sem redução nos preços, apesar de um volume menor de exportações previsto por causa da seca.

Sitônho trabalha há mais de 20 anos com a cadeia produtiva do mel e defende o aumento do consumo doméstico, principalmente em escolas, e a busca por novos mercados internacionais. Ele alerta que a seca atípica pode reduzir em 35% a 40% a produção para os mais de 800 associados no Piauí, Maranhão e Ceará.

No Piauí, 129 dos 224 municípios estão em emergência por causa da estiagem. O governo estadual anunciou medidas para acelerar a devolução de créditos de exportação e aliviar os impactos da tarifa.

Renato Azevedo, presidente da Abemel, destaca que o Piauí, com sua produção orgânica tradicional, pode ser o mais prejudicado entre os principais exportadores brasileiros, que também incluem Rio Grande do Sul e Paraná. Ele ressalta que a insegurança quanto ao futuro da tarifa preocupa os produtores, com estoques elevados e suspensão de envios de mel para os portos.

Os Estados Unidos são o principal destino do mel brasileiro, mas o preço do produto deve cair com as tarifas extras, e a quantidade exportada deve diminuir pela metade. Substituir essas vendas no mercado interno é um desafio grande, e o Brasil teria que aumentar muito o consumo doméstico para compensar.

Na Europa, além das barreiras comerciais, existem diferenças técnicas na classificação do mel orgânico em relação aos EUA, complicando o processo de exportação.

Apesar das dificuldades, as exportações para os EUA devem continuar, mas em volume reduzido. Renato Azevedo menciona que o mercado americano pode cair de 51% para cerca de 20% das exportações, e o setor precisará adaptar-se a essa mudança.

Algumas empresas estão negociando para manter as exportações aos Estados Unidos, enquanto outras consideram cortes de pessoal caso as tarifas continuem por muito tempo.

Renato Azevedo também participou de um encontro com o vice-presidente Geraldo Alckmin para pedir apoio do governo federal, destacando a necessidade de uma linha de crédito de longo prazo para ajudar os produtores e preservar os aspectos sociais, econômicos e ambientais da atividade apícola.

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