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sexta-feira, 22/11/2024
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Meio ambiente e agronegócio não são tema gastrointestinal, diz Kátia Abreu

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Para senadora líder da bancada ruralista, discurso de Bolsonaro é “antimercado” e produtores felizes hoje podem chorar amanhã

Katia Abreu: senadora, que era símbolo da retórica antiambiental, afirmou que “evoluiu” (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

São Paulo — Uma das líderes da bancada ruralista no Senado, Katia Abreu (PDT-TO) disse que a política do presidente Jair Bolsonaro para o meio ambiente pode fechar o acesso de produtos brasileiros no exterior e causar prejuízos ao agronegócio. “Os agricultores que estão alegres hoje vão chorar amanhã.”

Ex-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e ex-ministra da Agricultura, a senadora, que era símbolo da retórica antiambiental, afirmou que “evoluiu”. Esse discurso, na avaliação dela, é “antimercado” e representa atraso. Para ela, cabe ao Congresso atuar como um “aceiro”.

A sra. já foi muito associada ao desmatamento, mas tem feito discursos a favor da preservação da Amazônia no Senado. O que mudou?

Eu tinha um discurso radical, para o lado dos meus. Tenho muito orgulho de ter evoluído. Meu pensamento estava dentro de uma caixinha: “Isso é ambientalista que quer destruir a agricultura brasileira, que já destruiu suas matas”. Aquela coisa decorada. E não tem nada a ver. Abri meus olhos e aprendi o quanto a Amazônia era importante para garantir as chuvas no sul e centro do Brasil. Aprendi sobre a importância de se manter as nascentes dos rios.

O discurso do governo pode prejudicar o agronegócio?

O Bolsonaro está se comportando como antimercado. Hoje, as empresas mais valorizadas na bolsa têm um componente fortíssimo tecnológico e de sustentabilidade. Todo mundo já incorporou isso como necessidade, e não como uma coisa de politicamente correto.

Quem é que não está vendo, mais do que nós, agricultores, que as chuvas mudaram, a temperatura mudou, rios que não secavam antes, que eram perenes, e hoje secam? Quem nega isso está fora da realidade. O presidente precisa entender que meio ambiente e agronegócio não são uma questão gastrointestinal.

Por que o agronegócio apoia esse discurso?

Os produtores estão enganados. Os produtores estão alegres hoje e poderão chorar amanhã. Temos o agro que produz na roça, que apoia o Bolsonaro. Mas o agro tem outras cadeias: a produção de insumos, o processamento e industrialização e os transportadores. Esses três últimos estão desesperados, porque quem vai bater na porta com a cara e a coragem para vender são eles.

Como isso pode prejudicar as vendas dos produtos brasileiros?

Eu tenho muito medo de que percamos mercado. Estamos no auge de um acordo delicado, que é União Europeia e Mercosul. Os agricultores na Europa são fortíssimos e altamente subsidiados, não conseguem competir conosco sem isso. Então, qualquer coisa vai ser desculpa para atrasar a implementação desse acordo por três, quatro, cinco anos.

É do que precisam para arrumarem barreiras técnicas aos nossos produtos. Imaginem os comerciais que essas associações poderosas da Europa podem fazer contra nós lá, na TV e internet? E farão: “O Brasil aumenta o desmatamento e acaba com a Amazônia”.

Qual é o papel do Congresso neste contexto?

Quando uma fazenda pega fogo, em vez de tentar apagar o fogo, ele te queima, você vai lá na frente, faz um aceiro (raspagem do chão com trator) para o fogo parar ali. Aí você pega e rapidamente controla o fogo, queima aquele pedaço e acabou. Então, nós precisamos fazer o contrafogo. Temos a legislação mais rigorosa do mundo, muito boa para seus objetivos. No Senado garanto que não há ambiente para flexibilizá-la.

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