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sábado, 20/12/2025

Médicos sem especialização crescem em SP e mostram falhas na formação

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Cláudia Collucci
Folhapress

O número de médicos em São Paulo que atuam sem ter uma especialização, também conhecidos como médicos generalistas, aumentou muito nos últimos dez anos. Em 2015, havia cerca de 46,2 mil médicos sem título de especialista; hoje, esse número está próximo de 80 mil, correspondendo a 40% dos médicos do estado. No ano 2000, esses profissionais eram apenas 23%.

Esses dados foram levantados por um estudo chamado Demografia Médica do Estado de São Paulo, feito pela Faculdade de Medicina da USP em parceria com a Associação Paulista de Medicina (APM) e a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, divulgado em 10 de dezembro.

Do total de médicos generalistas, aproximadamente 15 mil ainda são residentes, que podem conseguir a especialização nos próximos anos. Contudo, há um grupo crescente que não consegue entrar em programas de residência médica ou escolhe não terminar uma especialização.

“A concorrência pelas vagas de residência aumentou muito. O número de vagas está quase parado, mas muitos profissionais de todo o Brasil tentam entrar em São Paulo. Alguns passam anos tentando, mas não conseguem”, explicou Mario Scheffer, professor da USP e coordenador do estudo.

Outro motivo para a falta de especialização é o alto custo dos estudos de medicina. Cerca de 20% dos estudantes de medicina em escolas particulares em São Paulo usam financiamento estudantil, como o Fies ou bancos privados, e não conseguem ficar os anos necessários na residência médica.

Além disso, jornadas longas de trabalho, assédio moral e baixa remuneração também levam muitos jovens médicos a desistirem da especialização.

Médicos sem especialização atuam mais no sistema público, especialmente em postos de saúde, emergências e no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No setor privado, eles trabalham principalmente em clínicas populares e serviços de telemedicina.

Regiões como Registro, Marília, Araçatuba, Baixada Santista, Presidente Prudente e Franca têm uma proporção maior desses médicos generalistas, chegando a mais de 45% do total. Já em Campinas, Barretos e Grande São Paulo, essa proporção é menor, em torno de um terço.

Este aumento pode dificultar a implementação de políticas de saúde que necessitam de especialistas, como reduzir filas para consultas e cirurgias no SUS. “Ter especialização é importante para os profissionais e para toda a população”, afirmou Antonio José Gonçalves, presidente da APM.

A qualidade do ensino durante a graduação médica também é preocupante. Segundo Mario Scheffer, médicos sem uma boa formação podem diminuir a qualidade do atendimento. Ele alerta que falta um sistema para avaliar tanto os estudantes quanto as instituições de ensino.

Recentemente, o Senado aprovou uma proposta para que médicos recém-formados precisem passar por uma prova nacional para se registrar nos conselhos regionais de medicina, mas o governo federal discorda, preferindo um modelo que avalie também as faculdades.

Outro problema é o crescimento dos chamados falsos especialistas, que fazem cursos que não são reconhecidos oficialmente para especialização, mas se dizem especialistas.

O número de médicos em São Paulo tem crescido rapidamente, aumentando o número de generalistas. Entre 2015 e 2025, o crescimento anual de médicos foi de 34,2%, muito maior que o crescimento da população, que é de 1,2%.

Atualmente, há cerca de 4 médicos para cada mil habitantes em São Paulo. Esse número deve crescer para 5 em cinco anos e para 7 em dez anos, podendo deixar um excesso de médicos no estado, segundo Mario Scheffer.

O número de escolas médicas também quase dobrou, chegando a 87 em 2025, sendo 14 só na capital. A maioria das vagas (mais de 80%) está em instituições privadas, e a Grande São Paulo concentra 40% das vagas médicas.

Antonio José Gonçalves destacou que há um crescimento rápido de cursos de medicina com qualidade questionável, que visam lucro e preocupam pela baixa qualidade de ensino.

O crescimento de médicos especialistas em São Paulo teve alta de 160% nos últimos 14 anos, principalmente em áreas como clínica médica, medicina de família, emergência e medicina legal. Metade dos especialistas está concentrada em sete áreas principais: clínica médica, cirurgia geral, pediatria, ginecologia/obstetrícia, anestesiologia, cardiologia e ortopedia/traumatologia. A maioria atua na Grande São Paulo.

Mario Scheffer comentou que, apesar das desigualdades regionais, nenhuma área do estado tem menos de dois médicos por mil habitantes atualmente, até mesmo em regiões antes desassistidas, como Registro.

No entanto, a concentração de programas de residência médica é baixa, com apenas 57 dos 645 municípios oferecendo esses cursos. Um quinto das vagas de residência não são preenchidas, o que dificulta a formação de especialistas e a redução das desigualdades no acesso ao atendimento médico.

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