MAELI PRADO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O Banco Master teria vendido carteiras de crédito consignado falsas ao Banco de Brasília (BRB) no valor de R$ 12,2 bilhões. Isso corresponde a mais de 20% das operações de crédito do BRB, de acordo com investigações do Banco Central, Ministério Público Federal e Polícia Federal.
Uma decisão do juiz da 10ª Vara Criminal Federal do Distrito Federal, Ricardo Augusto Soares Leite, revela que essas operações causaram problemas financeiros para o BRB, que então teria feito registros contábeis sem documentos suficientes para esconder a situação.
Segundo análise técnica, os problemas no BRB apareceram já no terceiro trimestre de 2024, período em que aumentaram essas compras de carteiras.
O valor de R$ 12,2 bilhões representa 20,8% da carteira de crédito informada ao Banco Central pelo BRB no meio de 2025.
A investigação sugere que o objetivo do Master era aumentar seu balanço de forma artificial com essas vendas ao BRB.
Durante as operações, o BRB realizava pagamentos ao Master, mas sem retorno real do dinheiro, recebendo outras carteiras ou fundos em troca. Além disso, o Banco Central identificou que o BRB não repassava valores recebidos dos tomadores dos empréstimos ao Master, problema que foi corrigido depois.
O Banco Central apontou indícios de gestão fraudulenta entre os gestores do BRB em acordo com os diretores do Banco Master.
O Master teria emitido cerca de R$ 50 bilhões em títulos, principalmente CDBs, mas cerca de R$ 12 bilhões não tinham lastro, pois os ativos do banco eram pouco líquidos.
A decisão judicial destaca que o Master usou meios ilegais para aumentar seu patrimônio, associando-se a uma sociedade para criar carteiras de crédito falsas e revendê-las ao BRB. Essas carteiras falsas teriam sido originadas a partir de associações de servidores públicos, mas não havia movimentação financeira compatível com essas operações.
O BRB só passou a exigir documentos adicionais após o Banco Central solicitar esclarecimentos, o que levantou suspeitas sobre a operação desse montante.
As carteiras falsas somavam R$ 6,7 bilhões, e o BRB pagou R$ 5,5 bilhões em prêmios sobre esses empréstimos.
Mesmo com o monitoramento do Banco Central iniciado em 2024, o BRB continuou a transferir grandes valores ao Banco Master em 2025.
Recentemente, o banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, foi preso em São Paulo ao tentar embarcar para o exterior.
O Banco Central liquidou extrajudicialmente o Master, e o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, e o diretor financeiro, Dario Oswaldo Garcia Júnior, foram afastados por 60 dias.
Em nota, o BRB afirmou que mantém sua saúde financeira, destacando que mais de R$ 10 bilhões da carteira adquirida já foram liquidados ou substituídos, e que o que resta não representa risco direto ao banco. O BRB também assumiu o papel de credor na liquidação do Master e reforçou seus controles internos com acompanhamento do Banco Central.
A agência de classificação de risco S&P rebaixou a nota do BRB, citando preocupações com as práticas de governança e riscos do banco causadas por essa situação.
Desde a liquidação do Banco Master, as ações do BRB caíram 10,06%, e acumulam queda de 4,9% no ano, segundo dados da plataforma CMA.
