ADRIANA FERNANDES E CONSTANÇA REZENDE
FOLHAPRESS
Investigadores que atuam na operação que levou à prisão do banqueiro Daniel Vorcaro na noite da segunda-feira (17) suspeitam que o banco Master utilizou um acordo com o Banco de Brasília (BRB) para ocultar a criação de carteiras falsas de empréstimo consignado. Essa prática fez o balanço do Master parecer maior do que realmente era, segundo as apurações.
Essas carteiras de crédito tinham sido formadas com clientes que não existiam, fora do Master. Depois, foram vendidas para o banco de Vorcaro e, posteriormente, compradas pelo BRB em dezembro do ano passado.
As instituições Master e BRB foram procuradas para comentar, mas ainda não se manifestaram.
No começo do ano, o Banco Central identificou operações suspeitas na transferência dessas carteiras e convocou a direção dos dois bancos para pedir esclarecimentos. As respostas foram insuficientes e as investigações foram aprofundadas, sendo encaminhadas ao Ministério Público Federal (MPF) e à Polícia Federal (PF), que abriu uma investigação formal.
O BRB parou de comprar essas carteiras por determinação do Banco Central, e o Master readquiriu esses ativos. O cancelamento da cessão ocorreu em fevereiro de 2025.
Em março, o BRB anunciou que havia adquirido o Master e solicitado aprovação para a compra junto ao Banco Central. Esse anúncio ocorreu durante as investigações sobre as carteiras de crédito.
Com essa compra, os balanços dos dois bancos seriam unidos. Os investigadores acreditam que as carteiras de crédito fraudadas que o BRB comprou iriam se misturar com outros ativos no balanço do banco, mascarando créditos que não seriam pagos, segundo fonte ligada à investigação.
Em setembro, o Banco Central rejeitou a compra do Master pelo BRB e repassou informações adicionais ao MPF justificando o veto.
A PF informou que as apurações começaram em 2024, após pedido do MPF para investigar uma possível fabricação de carteiras de crédito falsas por uma instituição financeira.
Segundo a Polícia Federal, esses títulos foram vendidos para outro banco e, após fiscalização do Banco Central, foram substituídos por outros ativos sem avaliação técnica adequada. Ainda não há um valor exato da fraude, mas estima-se que pode variar entre R$ 8 e 12 bilhões.
Como os clientes não existiam, não havia reclamações, facilitando o crescimento da fraude.
O ex-sócio do Master, o empresário baiano Augusto Lima, também foi preso na operação Compliance Zero. Ele foi responsável por criar na Bahia o CredCesta, um cartão de crédito consignado para servidores públicos que impulsionou esse tipo de financiamento no Master.
O Ministério Público Federal e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) também investigam possíveis irregularidades nos empréstimos consignados do Banco Master, incluindo descontos indevidos em benefícios previdenciários.
O caso está sob análise da Procuradoria da República no Distrito Federal, que iniciou um procedimento preparatório em 4 de agosto para obter informações e analisar documentos.
Esse procedimento é uma etapa anterior ao inquérito civil, com o objetivo de investigar violações de direitos e práticas abusivas. A Procuradoria notificou o INSS, que igualmente iniciou um processo administrativo sobre o assunto.

