Guilherme Seto
Brasília, DF (FolhaPress)
Duda Lima, que é o publicitário responsável pelas campanhas do PL e esteve à frente da eleição presidencial de Jair Bolsonaro em 2022, criou em julho um vídeo a pedido do pastor Silas Malafaia. O vídeo mostra que o ex-presidente e seus aliados enfrentam uma perseguição injusta e diz que as tarifas impostas ao Brasil pelo presidente dos EUA, Donald Trump, só serão reduzidas se os bolsonaristas receberem anistia.
Segundo a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República (PGR), Malafaia orientou ações para pressionar ministros do STF e parlamentares a aprovarem medidas que beneficiem o grupo ligado a Bolsonaro, como a anistia. Essas ações foram promovidas por Jair Bolsonaro e pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Duda Lima não está sendo investigado pela PF nesse caso.
O pedido foi citado em conversas entre Malafaia e Bolsonaro que aparecem no relatório da PF, que indicam tentativas de impedir o julgamento envolvendo a trama golpista. Bolsonaro foi condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, sendo a primeira condenação desse tipo para um ex-presidente. A defesa vai recorrer.
Malafaia está sendo investigado por suposto envolvimento em ações para dificultar a investigação e tentar abolir o Estado democrático de Direito de forma violenta.
Malafaia declarou que Duda Lima é seu amigo, que não pagou pelo vídeo e que não há crime na relação entre a queda das tarifas de Trump e a anistia para Bolsonaro.
O pastor afirma que há perseguição política contra ele e que a Polícia Federal age a mando do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Ele questiona porque opositores da esquerda não podem fazer propagandas para se defender, chamando isto de injusto e vergonhoso.
Em nota, Duda Lima confirmou que trabalha contra o atual governo do presidente Lula (PT), mas garante que suas produções respeitam as leis e a liberdade de expressão.
O relatório detalha que em 13 de julho Malafaia pediu a Duda Lima para criar a frase “anistia já e a taxação cai”, com o intuito de tirar o discurso de Lula da defensiva e passar ao ataque. Essa estratégia surgiu após o anúncio das tarifas dos EUA contra o Brasil.
Malafaia escreveu a Bolsonaro explicando que o vídeo e os banners estariam prontos para iniciar uma campanha orquestrada com a mensagem de que o Brasil da liberdade não será taxado.
A polícia destacou a expressão “campanha orquestrada” no relatório.
Para a PF, as mensagens mostram que o objetivo real dessas ações era coagir as autoridades brasileiras para garantir anistia e impunidade, essencialmente para reverter as sanções dos EUA.
Uma semana após essas conversas, Malafaia publicou o vídeo no X (ex-Twitter), contendo a carta de Trump e o lema “o Brasil da justiça e liberdade não será taxado”.
O vídeo transmite que Trump apoia o Brasil verdadeiro e quer parceria, afirmando que só aplicará tarifas se houver insistência numa democracia relativa. A mensagem final pede anistia para inocentes.
Duda Lima explicou que discorda de Lula especialmente quando este diz que “a democracia é relativa” e criticou posturas do presidente que ele considera irresponsáveis no relacionamento com os EUA.
Além de trabalhar em campanhas para o PL e seus aliados, Duda é responsável pela comunicação do partido e tem proximidade com Valdemar Costa Neto, presidente da sigla.
Em 2024, suas agências receberam milhões do PL e de campanhas de aliados, incluindo uma quantia significativa para a campanha do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), indicado por Valdemar Costa Neto.
Durante o período eleitoral para a Prefeitura de São Paulo, Duda foi agredido com um soco no olho por Nahuel Medina, cinegrafista do candidato Pablo Marçal (PRTB), em um debate organizado pelo Grupo Flow.