CLÁUDIA COLLUCCI
FOLHAPRESS
Nos últimos anos, a medicina em São Paulo passou por mudanças importantes, ficando com um novo perfil: mais mulheres, mais jovens e mais diversidade racial, embora ainda longe da representatividade da população do estado.
Em 2025, as mulheres passaram a ser a maioria dos médicos em São Paulo, representando 52% do total, segundo o estudo Demografia Médica do Estado de São Paulo, realizado pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP.
Espera-se que esse número suba para 70% em uma década. As mulheres predominam em 22 das 55 especialidades, especialmente em áreas como pediatria, ginecologia, obstetrícia, medicina de família, dermatologia e endocrinologia.
Para Mario Scheffer, professor de medicina preventiva da USP e coordenador do estudo, essa é uma mudança estrutural muito importante. Ele destaca que, apesar disso, ainda existem desigualdades, como diferenças salariais e menos mulheres em cargos de liderança na área médica.
A presença maior de mulheres também altera o tipo de atuação médica, com maior foco em atenção primária e melhor comunicação com os pacientes. Contudo, ainda há desafios, incluindo jornadas de trabalho menores e barreiras em especialidades cirúrgicas.
A medicina paulista também está ficando mais jovem: mais de um terço dos médicos tem 35 anos ou menos. Isso está ligado ao crescimento no número de escolas de medicina, que passou de 47 para 87 em dez anos, oferecendo mais de 10.400 vagas anuais.
Em relação à inclusão social, houve avanços, com o aumento da presença de negros entre os estudantes (de 8% para 13%) e de egressos de escolas públicas (de 21% para 35%), principalmente nas universidades públicas que adotam políticas de cotas. Contudo, nas instituições privadas, que oferecem a maioria das vagas, as mudanças são pequenas.
Mario Scheffer alerta para o risco de a inclusão social ser limitada devido à predominância de escolas privadas que não aplicam políticas de equidade fortes. São Paulo ainda forma menos estudantes negros do que a média do Brasil e do que seria proporcional à população.
A desigualdade também se reflete no mercado de trabalho. Por exemplo, pouco mais de 7% dos cirurgiões trabalham exclusivamente no Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto 26% atuam apenas no setor privado. A maioria trabalha em ambos os setores.
São Paulo tem a maior população com plano de saúde no país (40%) e absorve grande parte dos médicos especialistas para o setor privado, deixando o SUS dependente de profissionais mais jovens e em formação. Segundo Mario Scheffer, os serviços privados que não atendem o SUS demandam muito da força de trabalho especializada, o que pode limitar o atendimento para a maioria da população.
De acordo com projeções, o número de médicos em São Paulo deve crescer de 197 mil em 2025 para 340 mil em 2035.
Mario Scheffer considera que a diversidade crescente na medicina paulista é um avanço positivo, mas reforça que ainda há desafios a serem enfrentados, como desigualdades, necessidade de melhor formação e garantia de que a nova medicina atenda às necessidades da população.

