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sexta-feira, 05/12/2025

mais da metade dos beneficiários saiu do bolsa família em 10 anos

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Seis em cada dez pessoas que recebiam o Bolsa Família em 2014 conseguiram sair do programa nos dez anos seguintes. É o que mostra o estudo Filhos do Bolsa Família, divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.

O levantamento, feito em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), destaca que os adolescentes em 2014 são os que mais deixaram o programa.

Enquanto em geral 60,68% dos beneficiários saíram, entre os jovens de 15 a 17 anos essa taxa chega a 71,25%. Ou seja, sete em cada dez adolescentes saíram do programa após uma década.

Na faixa de 11 a 14 anos, a saída foi de 68,80%, e para crianças com até 4 anos, 41,26% deixaram o Bolsa Família no mesmo período.

Os beneficiários estudados são considerados a “segunda geração” do programa, criado em 2003.

Mobilidade social

O professor de economia da FGV, Valdemar Rodrigues de Pinho Neto, autor do estudo, explica que o Bolsa Família não apenas alivia a pobreza imediata, mas também facilita a mobilidade social.

Ele ressalta a importância das regras que exigem saúde e educação, como manter crianças na escola, vacinação em dia e pré-natal.

“O programa oferece transferência de renda e ajuda a desenvolver o capital humano dos jovens, possibilitando que no futuro tenham oportunidades de trabalho e melhores condições de vida”, afirma.

O pesquisador destaca que a saída do Bolsa Família é crucial para a sustentabilidade do programa.

“Com recursos limitados, é importante saber que os jovens beneficiários não ficarão no programa para sempre, garantindo sua continuidade.”

Ele também aponta que aqueles que saíram não ficaram desprotegidos. No grupo de adolescentes, 28,4% tinham emprego formal após dez anos, e 52,67% tinham deixado o Cadastro Único, usado para programas sociais de pessoas vulneráveis.

Fatores que influenciam a saída

A pesquisa mostrou que o ambiente em que os beneficiários vivem afeta a probabilidade de saírem do programa entre 2014 e 2025.

  • Em áreas urbanas, 67% dos jovens de 6 a 17 anos saíram, enquanto nas áreas rurais, essa taxa foi de 55%.
  • Jovens de famílias com o responsável trabalhando com carteira assinada têm taxa de saída de 79,40%, maior que os que têm responsáveis sem carteira (57,51%) ou trabalhadores por conta própria (65,54%).
  • Jovens cujos responsáveis têm ensino médio completo apresentam saída de 70%, acima dos que têm apenas ensino fundamental (65,31%).

“Pais com mais educação conseguem tirar os filhos da pobreza que se repete de geração em geração”, comenta Valdemar Neto.

Desafios e perspectivas

O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, ressaltou que o Bolsa Família é o começo, não um fim.

“É difícil estudar ou trabalhar se não for tirado da fome. Por isso, este programa é fundamental para os mais pobres”, disse.

Dados recentes

O estudo da FGV também apresenta dados do Novo Bolsa Família, iniciado em 2023.

Entre os beneficiários no começo de 2023, 31,25% já haviam saído do programa em outubro de 2025. Entre jovens de 15 a 17 anos, essa saída foi de 42,59% em apenas três anos.

Durante esse período, a média mensal de novas famílias entrando (~359 mil) é menor que as que saem (~447 mil).

Valdemar Pinho Neto acredita que a terceira geração de beneficiários terá uma taxa de saída ainda melhor que a segunda.

O estudo foi divulgado na mesma semana em que o IBGE informou que mais de 8,6 milhões de brasileiros saíram da pobreza em 2024, com a taxa da população pobre caindo para 23,1%, a menor desde 2012.

O mercado de trabalho mais aquecido e os programas sociais foram apontados como causas dessa redução.

Mecanismo de apoio à autonomia

Valdemar Pinho Neto frisou duas características importantes do novo Bolsa Família:

  • Uma regra que impede a exclusão automática de quem conseguiu emprego, com período para adaptação e garantia de retorno caso perca o trabalho;
  • O Programa Acredita, que oferece microcrédito para apoiar pequenos empreendedores de baixa renda.

“A transição do Bolsa Família para o mercado de trabalho é feita de forma mais suave, evitando decisões bruscas para os beneficiários”, explica o professor.

Sobre o Bolsa Família

Para ser beneficiário, a renda familiar mensal per capita deve ser até R$ 218.

O benefício base é R$ 600, podendo aumentar em casos com crianças ou gestantes. O valor médio pago é de R$ 683,28. Em novembro, o programa atendia 18,65 milhões de famílias com custo de R$ 12,69 bilhões, segundo a Agência Brasil.

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