O governo de Nicolás Maduro anunciou, nesta segunda-feira (13/10), o fechamento da embaixada da Venezuela em Oslo, na Noruega, alegando uma "reestruturação" no serviço exterior do país. A decisão acontece três dias após a opositora María Corina Machado — uma das vozes mais importantes da oposição democrática ao regime venezuelano — ser laureada com o Nobel da Paz de 2025.
Em comunicado divulgado pelo chanceler venezuelano, Yván Gil, Caracas declarou que "o objetivo principal desta reorganização é otimizar os recursos do Estado" e redefinir a presença diplomática venezuelana "para fortalecer alianças com o Sul Global".
"Como parte da realocação estratégica dos recursos, decidiu-se fechar as embaixadas na Noruega e na Austrália. As relações bilaterais e o atendimento consular nestes países serão realizados eficientemente por meio de missões diplomáticas cumulativas", afirma o documento oficial.
Além do encerramento das representações na Noruega e Austrália, o ministério externo anunciou a abertura de consulados no Zimbábue e Burkina Faso.
O comunicado não faz referência ao prêmio conquistado pela líder opositora, anunciado na última sexta-feira (10/10) pelo comitê norueguês do Nobel da Paz. Desde então, os principais líderes chavistas mantêm silêncio sobre o assunto.
No domingo (12/10), durante discurso alusivo ao Dia da Resistência Indígena, Maduro fez uma alusão indirecta, sem nomear María Corina, chamando-a de "bruxa demoníaca".
"Noventa por cento da população rejeita a bruxa demoníaca conhecida como La Sayona", disse o presidente.
La Sayona é uma figura lendária de terror em várias tradições folclóricas latino-americanas.
A pasta das Relações Exteriores da Noruega confirmou o fechamento da embaixada venezuelana. "Recebemos uma comunicação da embaixada da Venezuela informando o encerramento, sem justificativas. Apesar das divergências em vários assuntos, queremos manter um diálogo aberto com a Venezuela e trabalharemos nesse sentido", comentou Cecilie Roang, porta-voz do ministério.
Prêmio Nobel para a líder da oposição
María Corina Machado foi agraciada com o Nobel da Paz em reconhecimento ao seu "incansável empenho na defesa dos direitos democráticos do povo venezuelano e sua luta por uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia", segundo o comitê do Nobel.
O comitê destacou que Corina Machado é uma peça central e unificadora numa oposição antes fragmentada, que agora compartilha a demanda por eleições livres e um governo representativo.
Impedida pela Justiça da Venezuela de participar das eleições presidenciais de 2024, a opositora está vivendo na clandestinidade desde então. As eleições reelegeram Maduro em meio a acusações de fraude e falta de transparência.
Reação do governo dos EUA
Além dos ataques velados e discursos hostis de Maduro, o governo do presidente americano Donald Trump expressou descontentamento com o resultado do Nobel deste ano.
Trump, também indicado pelo Nobel por mediar um cessar-fogo em Gaza, não foi premiado.
Por meio da rede social X, o diretor de Comunicação da Casa Branca, Steve Chueng, afirmou que "o comitê do Nobel demonstrou que prioriza a política em detrimento da paz".
Mesmo assim, María Corina mencionou Trump em seu discurso de agradecimento, ressaltando que foi o ex-presidente quem "autorizou o envio de embarcações e aviões de combate para o Caribe com o intuito de fortalecer o combate ao tráfico de drogas".