Por Eduardo Naoum
O luto é uma reação natural diante de perdas, que mexe com nossas emoções, nosso modo de viver e até nossa espiritualidade. A psicóloga Keyla Cooper comenta que o luto faz a gente repensar quem somos e como vemos a vida.
Ela destaca que o luto não acontece em etapas fixas e que nem toda perda gera esse sentimento. Só aquelas perdas que afetam profundamente nossa vida provocam esse processo de adaptação.
“O luto pode surgir não só pela morte, mas por qualquer afastamento importante na nossa vida”, explica a especialista.
A perda muda nossa identidade
Quando perdemos alguém importante, seja um parceiro, um amigo próximo ou um colega de trabalho, tudo ao redor muda e precisamos nos reencontrar. Keyla Cooper pergunta: “Quantas pessoas precisam estar vivas para você continuar sendo você mesmo?”
Ela diz que ficar numa cadeira vazia, que para os outros está vazia, mas para quem ficou está cheia de lembranças, é difícil. Também perdas como o fim de um emprego ou até a perda de um animal de estimação são momentos de luto, mesmo que a lei brasileira não reconheça assim.
Direitos e leis
No Brasil, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) dá direito a dois dias de folga com pagamento para quem perde parentes próximos como cônjuge ou filhos. Outros trabalhadores têm prazos diferentes. A lei vê o luto como um evento curto numa família próxima, mas na psicologia é um processo longo e pessoal.
Keyla Cooper diz que o manual de diagnóstico de transtornos mentais (DSM) considera o luto “normal” como algo que dura cerca de um ano, na maioria dos casos a dor diminui depois desse tempo.
Como o luto afeta a mente e o corpo
O luto vai além da tristeza, deve ser visto também como um impacto no cérebro e no corpo. A mente fica cansada, concentração difícil, a pessoa sente uma espécie de nevoeiro mental, que atrapalha até tarefas simples como dirigir ou falar ao telefone.
Além disso, a pessoa em luto pode se sentir desligada do mundo, isolada, pois parece que a vida segue normal para os outros, mas para ela tudo mudou.
O luto pode até prejudicar a saúde física, piorando condições já existentes e aumentando riscos, como problemas no coração. Segundo a especialista, há um grande impacto emocional que afeta nosso organismo.
Aprender a viver com a perda
Superar o luto não é esquecer a dor, mas aprender a conviver com ela. O apoio dos amigos e familiares e rituais de despedida ajudam muito nesse processo. Caso contrário, a dor pode paralisar e impedir a vida seguir.
Keyla Cooper explica que luto e depressão são diferentes. No luto, há momentos em que a pessoa pode sorrir e sentir gosto pela vida, enquanto na depressão isso não acontece.
Para ajudar quem está passando pelo luto, é importante perguntar: “Posso fazer algo por você?” às vezes a ajuda prática é mais valiosa que palavras prontas.
“Sentir tristeza não é fraqueza. Se no seu dia você só conseguiu se levantar, tomar banho e comer, já é muito para quem está de luto”, finaliza a psicóloga.
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira