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sábado, 25/10/2025

Lula minimiza tentativa de Tarcísio negociar com EUA e vê ação para amenizar críticas

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CATIA SEABRA E RICARDO DELLA COLETTA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Aliados do presidente Lula (PT) acreditam que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tenta desviar as críticas sofridas por causa do aumento das tarifas anunciado pelo governo dos Estados Unidos, ao tentar mostrar que pode negociar com aquele país.

O encontro de Tarcísio com o chefe da embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, nesta sexta-feira (11), é visto como parte dessa estratégia. No entanto, há dúvidas se Washington realmente o reconhece como um interlocutor válido.

Para o Palácio do Planalto, Tarcísio, que chegou a usar um boné com o slogan de Donald Trump, está enfrentando forte pressão desde sua primeira reação ao aumento das tarifas.

Antes disso, o governador já tinha compartilhado uma publicação em que o ex-presidente americano defende Bolsonaro e diz que ele deve ser julgado apenas pelo povo brasileiro, criticando o Judiciário.

No dia 9, quando Trump confirmou as novas tarifas, associando a medida a uma suposta perseguição judicial contra Bolsonaro, Tarcísio tentou relacionar o aumento das tarifas às políticas do governo Lula, dizendo que ele privilegia ditaduras, apoia a censura e prejudica o maior investidor direto do Brasil.

Com a crise se aprofundando e críticas crescentes do setor empresarial, Tarcísio mudou o tom no dia 10, falando em “diálogo” e “negociação”. Após se reunir com Escobar, ressaltou a importância de negociar, afirmando que “narrativas não resolvem o problema”.

Assessores de Lula enxergam essa reunião mais como um esforço para diminuir as críticas do que como uma negociação oficial séria.

Primeiro, porque Tarcísio não tem a autoridade do governo federal para negociar acordos comerciais internacionais, que envolvem concessões tarifárias importantes. Como diz um ministro do governo Lula, ele não tem poder para conduzir essas negociações.

Segundo, Gabriel Escobar não é embaixador, mas um funcionário de menor influência, longe do círculo de poder que controla a Casa Branca. Portanto, a ação de Tarcísio é vista como inócua na prática. Aliados de Trump exigem o fim dos processos contra Bolsonaro e também apoio contra as regulações das grandes empresas de tecnologia, assuntos que não estão na alçada do governador.

Além disso, os esforços de Tarcísio para ajustar seu discurso sobre as tarifas foram considerados pouco eficazes, e ele acabou enfrentando resistência tanto do Supremo Tribunal Federal quanto de setores bolsonaristas.

Um ministro afirmou que Tarcísio tenta se apresentar como um salvador, mas não tem a credencial política necessária, correndo o risco de perder apoio de seus aliados.

Como publicado pela coluna Mônica Bergamo, da Folha, Tarcísio chegou a telefonar para ministros do STF propondo que autorizassem Bolsonaro a viajar aos EUA para se encontrar com Trump, argumentando que isso ajudaria a pacificar as relações e possivelmente levar à redução das tarifas.

Essa ideia foi considerada inadequada pelos magistrados. Assessores de Lula também viram com preocupação, temendo que o ex-presidente possa tentar fugir.

Em outra frente, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos EUA fazendo lobby contra Moraes e o governo Lula, vinculou qualquer negociação sobre tarifas a uma “anistia ampla, geral e irrestrita”.

Essa declaração foi interpretada como uma resposta direta às tentativas de negociação feitas por Tarcísio.

“Lamento, mas não dá para pedir ao presidente Trump — e a nenhuma autoridade internacional minimamente decente — para tratar uma ditadura como se fosse uma democracia. Ou começa com uma anistia ampla, geral e irrestrita ou bem-vindos à ‘Brazuela'”, escreveu Eduardo.

Essa situação mostra o desafio que Tarcísio enfrenta ao tentar equilibrar-se entre o bolsonarismo, interesses do empresariado paulista e o Judiciário.

O ex-apresentador Paulo Figueiredo, outro bolsonarista que articula sanções contra o governo Lula nos EUA, afirmou que Tarcísio acaba atrapalhando sem perceber.

“Enquanto houver esperança de que ele seja o salvador que intermedeia um acordo com os EUA, não consideram a única solução real: a anistia ampla, geral e irrestrita.”

Um assessor do Palácio avaliou que Tarcísio falhou em seu teste nacional e que suas contradições ficaram evidentes.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse que Tarcísio tentou se diferenciar do bolsonarismo e buscar protagonismo, mas já é tarde. “Até nas ditaduras havia nacionalismo. Hoje, são subservientes.”

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