O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (23/9), um dia após os Estados Unidos anunciarem novas sanções a autoridades brasileiras, relacionadas à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Espera-se que o discurso de Lula destaque a importância da soberania nacional. Esta é a primeira vez que o presidente petista visita os Estados Unidos desde as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump. Há a possibilidade de um encontro durante a abertura entre os dois líderes, com Lula tradicionalmente falando primeiro, seguido pelo presidente dos EUA.
Apesar da proximidade temporal dos discursos, não há indicações de diálogo entre os presidentes. Em entrevista recente, Lula expressou abertura para negociar tarifas diretamente com Trump durante sua estadia em Nova York. Ele também ressaltou sua disposição para dialogar com todos, afirmando:
“Se ele chegar e passar perto de mim, eu vou cumprimentá-lo, pois sou uma pessoa civilizada. Estou sempre disposto a conversar e negociar.”
Lula chegou a Nova York no domingo e permanece nos EUA até quarta-feira (24/9). Durante a visita, participará de reuniões sobre democracia, combate ao extremismo, meio ambiente e resolução do conflito na Faixa de Gaza, entre outros temas.
A primeira-dama, Janja Lula da Silva, está nos EUA desde a última quarta-feira, representando o Brasil na COP30 e acompanhará Lula em algumas agendas.
Nos dias que antecederam a viagem, houve incertezas sobre a presença de alguns membros da comitiva devido a atrasos na emissão de vistos, incluindo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que enfrentou restrições de circulação durante sua estadia.
Sanções recentes
Na segunda-feira (22/9), o governo de Donald Trump aplicou sanções à esposa do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, Viviane Barci de Moraes, com base na Lei Magnitsky. A punição também atingiu o Lex Instituto de Estudos Jurídicos, ligado à família do ministro.
As sanções incluem o congelamento de bens e contas bancárias nos EUA ou em instituições financeiras conectadas aos Estados Unidos. Alexandre de Moraes já havia sido sancionado anteriormente pela mesma lei.
O governo dos EUA declarou que as medidas visam desmantelar uma suposta rede de apoio financeiro ligada ao magistrado. Também foram revogados vistos de outras autoridades brasileiras, incluindo o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias.
Questões com vistos
Antes da viagem, a emissão de vistos para a delegação brasileira enfrentou atrasos por parte dos EUA, país anfitrião da ONU. Os vistos de ministros como Ricardo Lewandowski (Justiça) e Alexandre Padilha (Saúde) foram liberados apenas pouco antes do evento, com restrições para o segundo, limitando sua circulação na cidade.
Por determinação norte-americana, o ministro da Saúde só poderia transitar entre o hotel, a sede da ONU e representações diplomáticas, restringindo sua participação em reuniões presenciais.
O Ministério da Saúde criticou essas restrições, chamando-as de arbitrárias, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, classificou as limitações como injustas, buscando apoio de autoridades da ONU para reverter a situação.
Agenda em Nova York
Na segunda-feira, no primeiro dia da programação, Lula participou de uma sessão internacional para a resolução pacífica da questão palestina, organizada por França e Arábia Saudita.
No dia 24, ele liderará, junto com os presidentes Gabriel Boric (Chile) e Pedro Sánchez (Espanha), uma reunião em defesa da democracia e contra o extremismo, reafirmando compromissos com o multilateralismo e o Estado Democrático de Direito.
A visita ocorre em um contexto de tensão devido às recentes sanções americanas e à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal.
Meio ambiente
Parte da agenda de Lula será dedicada a temas ambientais, em preparação para a COP30, que ocorrerá em novembro em Belém (PA). Ele participará da Cúpula das NDCs, focada na ação climática e apresentação das metas de redução de emissões de gases de efeito estufa.
Lula também estará presente em eventos relacionados à adaptação climática e ao lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), iniciativa brasileira vinculada à presidência da COP.
Quanto a encontros bilaterais, o governo brasileiro confirmou apenas um compromisso com o secretário-geral da ONU, António Guterres, marcado para o dia 23 de setembro, pouco antes do discurso na abertura da Assembleia.