O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, se reunirá nesta quinta-feira, dia 16, à tarde com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, em Washington. O encontro, planejado com discrição pelas equipes diplomáticas brasileira e americana, foi confirmado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Departamento de Estado confirmou o horário e local da reunião, que acontecerá às 15h (horário de Brasília), na Casa Branca, destacando a importância dada pelo governo americano ao tema. Além de chefe da diplomacia, Rubio é também conselheiro de Segurança Nacional.
Primeiro, Rubio e Vieira terão uma conversa reservada, seguida por um diálogo ampliado com suas equipes.
A reunião focará na maior crise entre Brasil e EUA em 200 anos de relações diplomáticas, centrada especialmente nas tarifas altas impostas por Donald Trump sobre produtos brasileiros, com destaque para a sobretaxa de 40%.
Esse encontro marca a retomada oficial das negociações bilaterais, após o primeiro contato entre Lula e o presidente Trump, em 23 de setembro, nos bastidores da ONU em Nova York. Apesar de breve, o encontro foi precedido por contatos secretos para aproximá-los.
Lula declarou: “Quando fui falar com Trump na ONU, a gente estava em conflito. Ele me ligou e propôs uma conversa sem formalidades. Não houve química pessoal, mas sim uma relação pragmática. Amanhã teremos a negociação”.
Rubio e Vieira fazem uma preparação para a reunião futura entre Lula e Trump, que pode ocorrer na Cúpula da Asean, na Malásia, entre 26 e 28 de outubro. Ambos devem definir detalhes e negociar previamente.
O governo brasileiro quer acelerar esse encontro presidencial e espera um sinal claro durante a reunião. Caso não aconteça na Malásia, o encontro poderá ocorrer nos EUA ou no Brasil.
Recentemente, Vieira e Rubio já conversaram por telefone em um diálogo em espanhol, mostrando cordialidade e proximidade.
Vieira estará acompanhado de embaixadores e assessores da equipe do Itamaraty, incluindo Mauricio Lyrio e Philip Fox-Drummond Gough. A embaixadora Maria Luiza Viotti também participará.
Antes da reunião, representantes americanos como o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o representante comercial, Jamieson Greer, defendem as tarifas e justificam seu uso como forma de pressionar o Brasil em relação a questões legais e direitos humanos.
Greer comentou sobre a ordem judicial brasileira que, segundo ele, controla o fluxo de informações e confronta adversários políticos, enquanto Bessent mencionou a detenção de cidadãos americanos no Brasil.
Comércio em destaque
Os ministros tratarão principalmente de aspectos econômicos e comerciais, além de parcerias mútuas e questões políticas e geopolíticas.
O governo brasileiro e o setor privado veem os acordos atuais como assimétricos, oferecendo apenas um alívio parcial de tarifas e deixando margem para rupturas inesperadas.
Segundo documento obtido pela imprensa, esses acordos apresentam “reciprocidade à moda Trump”, citando tarifas aplicadas pela Indonésia e União Europeia, enquanto os EUA mantêm tarifas zeradas.
Os acordos são considerados frágeis e superficiais, permitindo que o governo americano afirme progresso sem detalhes técnicos claros.
Além disso, Trump tem incluído investimentos privados nos EUA e compromissos de compra de produtos americanas como parte dessas negociações.
Riscos da negociação
O documento indica que esses acordos são negociados contrariando regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e repactuam acordos de livre comércio dos EUA.
É possível que eventuais acordos colidam com regras internas do Mercosul e da OMC, ratificadas pelo Brasil.
Dependendo do formato do acordo, pode ser necessária aprovação na Câmara dos Deputados e no Senado, o que adiciona um risco político.
Essa aprovação seria exigida se a negociação envolver pacotes para eliminação de tarifas entre os dois países, em vez de acordos pontuais.
O Brasil pode ter que fazer concessões entre setores, como envolvendo o etanol, mesmo que este não seja o mais afetado, e buscar contrapartidas para o açúcar nos EUA.
China e Brics
Outro tema delicado são questões não comerciais, como a crescente influência econômica da China no Brasil e a pauta de desdolarização no Brics, que incomodam Trump.
O governo brasileiro pode tentar minimizar o impulso político à desdolarização e enfatizar um papel equilibrado no grupo, sem ser antiocidental.
Também destacará que as altas tarifas levaram a busca por alternativas comerciais com a China, situação que o Planalto prefere evitar para não aumentar a dependência do país asiático.
O governo apontará que Lula não autorizou adesão total à Nova Rota da Seda, iniciativa da China liderada por Xi Jinping.
Venezuela
O governo também pretende tratar de temas prioritários para a América Latina, incluindo as crises na Venezuela e no Haiti.
A seguir, alguns dos objetivos brasileiros para a negociação, segundo levantamento da equipe negociadora:
- Revogar o decreto que impõe sobretaxa de 40% sobre exportações brasileiras com base na Lei IEEPA (1977)
- Suspender a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes e sua esposa, assim como aos negócios do casal
- Suspender a suspensão de vistos para autoridades dos Poderes Judiciário e Executivo, incluindo ministros do STF e do Estado, como Jorge Messias (AGU)
- Firmar parcerias para exploração e processamento de minerais críticos no Brasil
- Reduzir ou eliminar tarifas em setores específicos
- Isenção de tarifas sobre café e carne, sem concessões brasileiras, para evitar aumento da inflação nos EUA
- Possível acordo sobre taxas para etanol americano no Brasil e contrapartida para o açúcar brasileiro nos EUA, que opera com cotas
- Negociação por meio de acordos bilaterais ou eliminação mútua de tarifas em setores inteiros
- Suspensão de investigações comerciais da Seção 301 contra o Brasil e medidas da Seção 232
- Proposta de regulação e taxação para grandes empresas digitais americanas, sob críticas do governo Lula à censura
- Consultas pela Organização Mundial do Comércio para resolver disputas comerciais
- Cooperação militar contra o narcotráfico e discussão sobre intervenção na Venezuela
- Formação de força de segurança para apoiar missão policial no Haiti