O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a independência dos Poderes e afirmou que ninguém está acima da lei durante seu pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão. Em um discurso breve de cinco minutos, o presidente garantiu que responderá às ameaças do governo de Donald Trump, que propõe uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos, com diplomacia e pelo multilateralismo, classificando essas ameaças como uma “chantagem inaceitável”.
Embora não tenha citado diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, cujo julgamento foi mencionado nas cartas recentes de Trump para justificar o tarifaço, Lula ressaltou que as instituições brasileiras atuam para proteger a sociedade contra discursos de ódio e desinformação propagados pelas redes digitais.
“No Brasil, ninguém — ninguém — está acima da lei. É essencial proteger as famílias brasileiras contra indivíduos e organizações que usam as redes digitais para golpes, fraudes, crimes de racismo, violência contra mulheres e ataques à democracia. Essas ações também alimentam o ódio, bullying entre jovens e desacreditam vacinas, causando o retorno de doenças antes erradicadas”, declarou o presidente.
Reforçando a autonomia do Judiciário, Lula afirmou que não pode interferir nas decisões de outros Poderes. “Contamos com um Poder Judiciário independente. Respeitamos o devido processo legal e os princípios da presunção da inocência, do contraditório e da ampla defesa. Tentar influenciar a justiça brasileira é uma grave violação da soberania nacional”, acrescentou.
Chantagem inaceitável
O presidente explicou que o Brasil tem buscado diálogo e negociação com os Estados Unidos desde maio, quando o governo Trump impôs uma tarifa inicial de 10% sobre produtos brasileiros. Ele classificou como chantagem o uso de informações econômicas falsas para justificar as ameaças tarifárias.
“Tivemos mais de 10 reuniões com o governo norte-americano e, em 16 de maio, enviamos uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta construtiva, mas recebemos um chantagem inaceitável, com ameaças às instituições brasileiras e informações incorretas sobre o comércio bilateral”, afirmou.
O governo está se reunindo com representantes dos setores produtivos, sindicatos e a sociedade civil para avançar nas negociações. Lula enfatizou que essa mobilização envolve a indústria, comércio, serviços, agricultura e trabalhadores.
“O Brasil responderá às ações dos Estados Unidos por meio da diplomacia, comércio e do multilateralismo. Estamos unidos na defesa do país, com orgulho e determinação, seguindo o exemplo diário dos brasileiros que trabalham duro para o crescimento nacional. Continuaremos buscando boas relações diplomáticas e comerciais com os Estados Unidos e o mundo”, concluiu.
Lula destacou que, em dois anos e meio, o Brasil abriu 379 novos mercados exteriores para seus produtos. Ele reafirmou que o governo usará todos os recursos legais para proteger a economia, incluindo ações na Organização Mundial do Comércio e a aplicação da Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso.
Traidores da pátria
O presidente expressou indignação pelo apoio de certos grupos políticos brasileiros às medidas tarifárias americanas.
“É revoltante saber que alguns políticos nacionais apoiam esses ataques contra o Brasil. São verdadeiros traidores da pátria, que apostam no quanto pior, melhor, sem se importar com a economia ou os danos ao povo”, declarou Lula.
Sobre a fiscalização das plataformas digitais estrangeiras, tema usado por Trump para justificar as tarifas, Lula ressaltou que essa medida visa proteger a soberania nacional. “Todas as empresas que atuam no Brasil, nacionais ou estrangeiras, devem cumprir as leis brasileiras”, frisou.
Pix é patrimônio nacional
Em relação às críticas do governo Trump ao Pix, o presidente garantiu que o sistema de transferências instantâneas será defendido.
“O Pix pertence ao Brasil. Não aceitamos ataques ao nosso sistema, que é um orgulho nacional. Temos um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo e vamos protegê-lo”, afirmou.
Números e meio ambiente
Lula apresentou dados que desmentem as acusações dos Estados Unidos de práticas comerciais injustas por parte do Brasil.
“A primeira vítima de um mundo sem regras é a verdade. São falsas as acusações de práticas comerciais desleais brasileiras. Os Estados Unidos mantêm um superávit comercial de US$ 410 bilhões com o Brasil nos últimos 15 anos”, afirmou.
Sobre o desmatamento, usado como justificativa para as ameaças, ele lembrou que o Brasil é referência mundial na proteção ambiental.
“Em apenas dois anos, reduzimos pela metade o desmatamento na Amazônia e estamos comprometidos a zerar o desmatamento até 2030”, disse.
“Não há vencedores em guerras comerciais. Somos um país de paz e acreditamos na cooperação internacional. Mas é importante lembrar: o Brasil pertence ao seu povo”, finalizou Lula ao encerrar o pronunciamento.