Por Larissa Barros
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Foi inaugurado nesta quarta-feira (25), no Shopping Alameda, localizado em Taguatinga, uma nova loja que faz parte do projeto Artesanato BSB, que expõe artigos feitos por artesãos e manualistas do Distrito Federal. Esta ação promovida pela Secretaria de Turismo do DF (Setur) tem como objetivo valorizar o trabalho desses profissionais, fomentar a economia criativa e estimular o turismo cultural na região.
Para esta edição, 30 artesãos foram escolhidos através de um chamamento público e passaram por um processo de curadoria para apresentar seus produtos no local. O ciclo de exposição dura 90 dias, após os quais um novo edital é publicado, garantindo renovação e novas chances para os participantes. A Setur ainda oferece capacitação, suporte logístico para o transporte das obras e possibilita a participação dos artesãos em feiras e eventos, tanto nacionais quanto internacionais.
O secretário de Turismo do DF, Cristiano Araújo, destaca que o projeto ultrapassa a simples função de uma vitrine para vendas: “Este local é muito mais que uma loja; é um ponto de encontro que une cultura, economia e identidade. O suporte da Secretaria é essencial para que os artesãos consigam expor seu talento, fortalecer a economia criativa e, com isso, expressar a identidade cultural da cidade”, ressalta.
A artesã Milenna Pasqualini, que voltou a participar do projeto após um período afastada, é especialista em amigurumi — técnica japonesa de crochê circular — e trabalha integralmente com artesanato. “Retornei porque o Alameda é um shopping de bairro, com público fiel. Permanecer muito tempo no mesmo local pode saturar o produto, por isso este retorno representa uma nova oportunidade para mostrar meu trabalho”, afirma.
Milenna relata que trabalha exclusivamente com artesanato e que espaços como esse são vitais para sua renda. “Enquanto estou na loja, praticamente toda minha renda vem daqui. Faço poucas encomendas e meu alcance no Instagram é limitado, então lojas colaborativas e feiras são essenciais”, explica.
Ela acredita que iniciativas assim ajudam a valorizar o ofício e aproximar o público do processo criativo. “As pessoas acham bonito, mas não compreendem o esforço necessário para fazer uma peça. Dizem: ‘é só linha’, ‘é só semente’. Não é assim. Cada trabalho carrega identidade e história. E o melhor é quando o próprio artesão atende, podendo explicar, contextualizar e contar o processo de criação. Isso faz toda a diferença”, detalha.
Apesar dos desafios, Milenna se diz apaixonada pelo que faz. “Faço muitas peças para bebês, coisas lúdicas. Isso me envolve. Alguns dizem que é terapia, mas para quem vive disso, é uma profissão. Sou sortuda por trabalhar com algo que amo. Quando termino uma boneca e ela fica do jeito que imaginei, sinto uma alegria enorme. E receber elogios me motiva. Somos artistas e precisamos desse reconhecimento”, conta.
Outro artesão selecionado é Leonardo Botelho, bombeiro militar de formação, que encontrou no artesanato uma maneira de reaproveitar materiais que seriam descartados após incêndios florestais. “Comecei a trabalhar com madeira depois de presenciar muitas árvores sendo queimadas. Pensava que não podia simplesmente jogar fora algo que levou anos para crescer. Após apagar um tronco, comecei a esculpir e não parei mais”.
Natural de Paracatu (MG), Leonardo equilibra o seu trabalho no batalhão com a produção artesanal. “Tanto o serviço de bombeiro quanto o artesanato são minhas paixões. Embora conciliar seja difícil, é isso que me impulsiona. Trabalho com madeiras reaproveitadas, aproveitando o que seria descartado ou está morto para dar uma nova vida”.
Ele vê a loja como uma chance que vai além da renda: “Muitos artesãos não têm condições para abrir uma loja própria. Este espaço oferece a oportunidade de mostrar nosso trabalho. Acho que deveria existir uma loja assim em cada região administrativa”, comenta.
Apesar das dificuldades como o alto custo das ferramentas e materiais, Leonardo vê o retorno como proporcional ao esforço: “Ferramentas para trabalhar madeira são caras e o processo é dispendioso. Mas quando se trabalha com dedicação e amor, a recompensa financeira aparece. É importante valorizar o que produzimos”.
No momento, o Distrito Federal conta com 14.851 artesãos e 2.583 manualistas registrados na Setur. A promoção do artesanato reforça a identidade local, fortalece a cultura e incentiva o turismo regional. Iniciativas como esta consolidam a economia criativa como um caminho sustentável para geração de renda e preservação dos saberes tradicionais.