A diferença apertada vai exigir que o país leve a cabo a apuração de 35 mil votos especiais chamados de “voto observado”
O Uruguai começa a semana mergulhado em incerteza política depois de uma eleição mais acirrada que o previsto por todos os institutos de pesquisa, neste domingo.
Com 100% das urnas apuradas, Luis Lacalle Pou, do partido Nacional, de centro-direita, se declarou vencedor com 48,71% dos votos, contra 47,51% de Daniel Martínez, candidato da esquerdista Frente Ampla, que comanda o país há 15 anos. Como o Uruguai tem um colégio eleitoral de menos de 3 milhões de eleitores, a vantagem é de apenas 28.666 votos: Lacalle Pou recebeu 1.168.019 votos, contra 1.139.353 votos de Martínez.
A diferença apertada vai exigir que o país leve a cabo a apuração de um tipo de voto especial, chamado de “voto observado”. Trata-se de um contingente de 35.229 eleitores que não votaram nas seções em que estavam designados por motivos específicos — como, por exemplo, ter que trabalhar nas mesas eleitorais. Como demandam uma análise mais detalhada dos dados, esses votos só são apurados em caso de necessidade, como acontece agora. Para ser eleito, Martínez precisa levar mais de 90% desses votos — a decisão só deve sair entre quinta e sexta-feira.
Lacalle Pou não quis esperar e anunciou a vitória na noite de ontem. Reclamou de não ter recebido uma ligação do adversário, mas afirmou que o presidente Tabaré Vázquez, também da Frente Ampla, se comunicou com ele. Enquanto isso, Martínez agradecia a seus eleitores por haver tirado uma diferença de oito pontos percentuais de desvantagem, segundo os principais institutos de pesquisas.
Caso a vitória de Lacalle Pou se confirme, será o triunfo de uma estratégia similar à que levou a esquerda ao poder, em 2005. Ele conseguiu reunir no segundo turno o apoio formal de cinco partidos que vão do centro à extrema direita, que lhe garantirá também a maioria parlamentar, com 56 deputados e 17 senadores. Numa eleição em que o aumento da violência foi o principal foco dos eleitores, Lacalle Pou, mesmo sem proposta amplas para o tema, levou em todos os estados do interior, com Martínez vencendo na capital, Montevidéu, e em Canelones, o estado vizinho.
Frente ao acirramento político de outros países vizinhos, os dois candidatos uruguaios pediram calma aos eleitores, na noite de ontem. Lacalle Pou pediu que seus eleitores comemorem com “cuidado e alegria”. A partir de primeiro de março, caso se confirme sua vitória, seu desafio será turbinar a economia do país mantendo avanços sociais que levaram o Uruguai a ser eleito o país do ano, em 2013, pela revista The Economist. À Frente Ampla resta um desafio semelhante ao da esquerda brasileira, a renovação dos quadros e dos discursos para se reconectar com a classe média e média baixa..