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terça-feira, 02/09/2025

Juros elevados e queda no campo: PIB deve diminuir no segundo trimestre

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O Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2025 será divulgado na terça-feira, 2 de setembro. As projeções do mercado financeiro, do Ministério da Fazenda e do Banco Central (BC) indicam uma desaceleração da atividade econômica em relação ao trimestre anterior, principalmente devido ao desempenho da agropecuária.

Especialistas ressaltam que o atual nível elevado da taxa de juros e a expectativa de queda no PIB agropecuário, consequência do ciclo da safra brasileira — que ocorre principalmente no primeiro trimestre —, contribuem para essa redução no ritmo econômico.

O desempenho do PIB brasileiro foi surpreendente no primeiro trimestre, com um crescimento de 1,4% em comparação ao quarto trimestre de 2024. A agropecuária, que representa cerca de 6,5% da economia do país, teve um crescimento de 12,2% no PIB.

O que é o PIB?

O Produto Interno Bruto é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por uma nação, estado ou cidade, durante um ano. A divulgação ocorre trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um aumento no PIB indica crescimento econômico, enquanto uma queda indica redução na produção econômica.

Juros elevados, safra concentrada e mercado de trabalho

Para André Valério, economista sênior do Inter, a desaceleração do PIB no segundo trimestre não altera significativamente a previsão para o ano, que é de um crescimento superior a 2%. Segundo ele, a redução na margem pode indicar que a política monetária restritiva (juros altos) tem impacto na economia real, mas essa confirmação dependerá dos dados dos próximos trimestres.

A taxa Selic está em 15% ao ano, o nível mais alto em quase duas décadas, o que tende a reduzir consumo e investimentos, encarecendo o crédito e desacelerando a atividade econômica. Valério destaca que a desaceleração do crescimento ainda não é expressiva, mas nota uma perda de força na economia devido à piora nas condições de crédito, que é o principal canal de transmissão dos efeitos da política monetária.

Ele ainda observa uma menor disposição dos bancos para conceder empréstimos recentemente e um aumento significativo da inadimplência, indicando dificuldades das famílias e empresas para cumprir compromissos financeiros. O mercado de trabalho, entretanto, mantém-se resiliente, com a taxa de desemprego em mínima histórica (5,8%). Mas Valério alerta que esse é o setor que mais demora a sentir os efeitos dos juros altos, prevendo piora na margem para os próximos trimestres.

Impacto das tarifas nos resultados econômicos

Cristina Helena Pinto de Mello, professora de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), afirma que a desaceleração do PIB no segundo trimestre afetará as previsões de arrecadação do governo federal e poderá influenciar parcialmente a conjuntura política e eleitoral de 2026, já que a economia geralmente tem peso nas decisões eleitorais.

Mello atribui parte da desaceleração à imposição de tarifas unilaterais de 50% sobre exportações brasileiras para os Estados Unidos (EUA), iniciada em agosto. Ela explica que essa medida afetou a confiança de empresários e consumidores, desencorajando investimento e consumo, o que prejudica o crescimento.

Um estudo da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG) estimou uma redução de R$ 25 bilhões no PIB brasileiro a curto prazo devido às tarifas, e um prejuízo potencial de até R$ 110 bilhões no longo prazo. Apesar disso, Mello destaca a importância de observar os efeitos do plano de contingência do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para proteger a economia.

Ela afirma que a alta taxa de juros não é a causa da desaceleração, mas limita a capacidade de reação da economia. Ressalta que o atual quadro é de desaceleração e não de recessão, portanto deve ser monitorado cuidadosamente.

Projeções para o PIB no segundo trimestre e para 2025

A economia brasileira cresceu 1,4% no primeiro trimestre, impulsionada pela agropecuária. Espera-se que o PIB do segundo trimestre apresente desaceleração em relação ao período anterior, conforme indicam o Ministério da Fazenda e o Banco Central.

A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda divulgou no Boletim Macrofiscal de junho que a previsão é de expansão de 0,6% no segundo trimestre, abaixo dos 1,3% projetados para o trimestre anterior. A SPE espera que o PIB agropecuário recua 0,7%, após um crescimento de 12,5% no primeiro trimestre, ao passo que PIB da indústria e serviços devem crescer 1% e 0,6%, respectivamente.

Pela ótica da demanda, o crescimento deverá ser mais fraco, com desaceleração na absorção interna, queda nos investimentos e contribuição positiva do setor externo. O Banco Central reforça que o arrefecimento da economia se deve à manutenção da política monetária restritiva, ao baixo nível de ociosidade dos fatores produtivos, à moderação do crescimento global e à redução do efeito da agropecuária do primeiro trimestre.

Analistas do mercado financeiro atualizaram levemente para cima a previsão do crescimento do PIB brasileiro em 2025, de 2,18% para 2,19%, conforme o Relatório Focus mais recente.

Principais projeções para o PIB de 2025:

  • Expectativa do Mercado (Relatório Focus): 2,19%
  • Ipea: 2,4%
  • Confederação Nacional da Indústria (CNI): 2,3%
  • Ministério da Fazenda (Boletim Macrofiscal): 2,5%
  • Banco Central: 2,1%

Esses números indicam que, apesar da desaceleração no segundo trimestre, a expectativa ainda é de crescimento econômico moderado para o ano de 2025.

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