Os jovens querem mais espaços públicos para manifestações culturais: ocupar praças; anfiteatros. Diversidade e divulgação das produções artísticas. Ser parceiros em políticas públicas. Simplificação dos processos de participação em editais e mais financiamento para quem está começando a criar. Também que o Curto Circuito da Juventude, iniciativa do Ministério da Cultura (MinC) em parceria com a Secretaria-Geral da Presidência da República, por meio da Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), aconteça mais vezes.
O presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Guti Fraga, disse que foi “contaminado por essa rapaziada” e decidiu que abrirá espaços da Funarte no Brasil para receber quem produz saraus, por exemplo, e jovens de outras linguagens. Vai estimular o uso dos espaços. “Eles fazem shows nas periferias, mas é importante que usem nossos teatros. Uma questão de pertencimento, de hábito, de ocupação.”
Américo Córdula, secretário de Políticas Culturais (SPC), do MinC, avaliou que tem coisa muita a se desenvolver dentro do Ministério e da esplanada (Trabalho, Justiça, Educação). Destacou que o material que resultou do encontro foi muito “valoroso” e que isso é “empolgante”.
A secretária Nacional de Juventude, Severine Carmen Macedo, participou da mesa de encerramento do evento. Falou das ações da sua área e estimulou que os jovens participem de espaços nos mais diversos fóruns que já existem.
Curto Circuito – Em três dias, 70 jovens de todas as regiões do país se reuniram no Complexo Cultural da Funarte, em Brasília, com uma pauta bem aberta . O MinC e a SNJ planejaram que fossem os protagonistas do encontro. Vieram para falar. Escutando uns aos outros, acabaram descobrindo pontos comuns. Criaram por si uma rede e vão continuar conectados. Também se ligarão mais nas políticas públicas da Cultura e da Juventude, sabendo que têm canais de comunicação abertos pelas redes sociais.
Maria Helena Serafim Rodrigues, da Comunidade Quilombola Calunga (Goiás) disse que o encontro foi uma “delícia”, sobretudo porque os jovens descobriram diversidades e foi possível pensar inovações.
Cinthia Monayra Barbosa de Matos, coordenadora do Ponto de Cultura Tear (Rio Grande do Norte), trabalha com teatro de rua, oficinas de jornalismo que produzem revistas de cultura, cultura popular. Para ela, avançar seria construir um “plano nacional de cultura e juventude contemplando a diversidade” que ela viu no Curto Circuito da Juventude. Assista ao vídeo da Cinthia.
Abertura – A ministra da Cultura, Marta Suplicy, e o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) participaram da abertura do evento no dia 11 . No dia 12, Marta voltou e interagiu na dinâmica da manhã. Ali mesmo decidiu e anunciou que vai colocar jovens para ir às comunidades, olhar projetos e ações. “O que é bom precisa ganhar musculatura”, afirmou.
Para a tarde de sábado, a ministra propôs que os quatro grupos formados para pensar propostas ao poder público tivessem como norte palavras de Gilberto Gil: “O povo sabe o que quer. Mas o povo também quer o que não sabe”.
Os jovens discutiram quatro eixos de atenção, sob essa premissa. Em foco: acesso à cultura, formação, fomento à produção artística, participação e protagonismo juvenil. As conclusões foram bastante ricas e serão melhor estudadas pelas equipes do MinC e SNJ. O recado foi dado.
O retorno aos jovens que participaram do encontro, informações e encaminhamentos às suas propostas, será dado ao longo dos próximos dois meses. Canais de comunicação dos dois ministérios estão abertos: redes sociais, inclusive, para trocar ideias permanentemente, com eles, e a população.
Repercussão – Para Juana Nunes, diretora de Educação e Comunicação para a Cultura da Secretaria de Políticas Culturais (SPC), “inauguramos fase nova no MinC, que é oxigenar, ouvindo os jovens que estão produzindo cultura”.
Marcos André Carvalho, secretário de Economia Criativa do MinC, destacou a qualidade das propostas formuladas pelos jovens: “O nível de formulação de políticas e de atuação dos jovens é impressionante. O segredo foi a curadoria dos jovens. Esse documento vai pautar um ano de políticas. Todos os eixos falam de Economia Criativa. Vimos que o que estamos fazendo tem muita sinergia com o que eles querem”.
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Hilton Cobra, que foi aplaudido de pé em sua fala aos jovens, reforçou as ações do MinC por uma lei específica para a Cultura, que desburocratize e dê mais acesso a financiamentos aos produtores culturais. Cobra defendeu revisão da contratação com Organizações não Governamentais. “Temos de rever isso porque tem afetado terreiros, por exemplo. “É urgente!”. Mais um ponto que falou foi sobre a luta do movimento negro para que se institua cota (20%) no Procultura (projeto que tramita no Congresso Nacional e prevê apoio a projetos culturais por meio de renúncia fiscal, texto que deve substituir a Lei Rouanet).
Ricardo Brasileiro, de Olinda (Pernambuco), disse que o encontro foi importante porque deu para perceber que “tudo é uma coisa só”. “A gente vive na nossa comunidade, no nosso bairro, mas o que a gente vive não é uma distância geográfica que vai modificar. A gente está conectado espiritualmente. O Brasil é muito grande, mas tem união”.
Lua Tavares, da União dos Palmares (Alagoas), falou da troca de experiências. “Foi muito boa!