O que começou como uma simples tentativa de socializar na adolescência transformou a vida da brasiliense Laura Beatriz Nascimento, de 27 anos, após ela ser diagnosticada com câncer no pulmão causado pelo uso prolongado de cigarros eletrônicos.
A primeira experiência de Laura com nicotina foi aos 14 anos, influenciada pela companhia de amigos fumantes. Naquela época, o consumo era esporádico e durou alguns anos sem grandes problemas.
Em 2016, durante um intercâmbio na Nova Zelândia, ela conheceu o cigarro eletrônico e passou a usar com maior frequência, alternando entre cigarros eletrônicos e tradicionais. De volta ao Brasil, abandonou o cigarro comum, utilizando tabaco apenas ocasionalmente, principalmente em festas.
O vício no vape aumentou significativamente durante a pandemia de Covid-19, quando Laura começou a usar pods descartáveis, acreditando na promessa de que eram menos nocivos. Contudo, a dependência se intensificou, e ela passou a fumar diariamente, tornando-se incapaz de ficar sem o dispositivo.
Além do impacto na saúde, o vício acarretou custos financeiros elevados, levando-a até a buscar trabalhos temporários para custear os dispositivos.
Apesar de mantém uma rotina ativa com exercícios físicos, Laura notava que seu desempenho não melhorava e acordava frequentemente com dificuldade para respirar, sintomas inicialmente atribuídos ao cansaço e à ingestão de álcool.
Em novembro de 2024, diante de sintomas agravados como tosse intensa e dor nas costas, ela procurou atendimento médico e foi diagnosticada com câncer no pulmão. Foi necessária uma cirurgia para remover parte dos pulmões e linfonodos afetados.
Perigos do uso de cigarros eletrônicos
Embora populares entre jovens e comercializados como alternativa menos agressiva que o cigarro tradicional, os cigarros eletrônicos contêm componentes tóxicos que podem causar graves problemas pulmonares e cardíacos a longo prazo.
Além do apelo visual moderno e dos aromas atrativos, os níveis de nicotina nestes dispositivos são frequentemente superiores aos do cigarro comum, aumentando o risco de dependência severa.
Além disso, existe a preocupação com lesões pulmonares graves associadas ao vape, especialmente quando produtos contêm tetrahidrocanabinol (THC).
O pneumologista Fabrício Sanches, do Hospital Santa Lúcia em Brasília, alerta que ambos os tipos de dispositivos são altamente viciantes, porém os cigarros eletrônicos podem facilitar a liberação rápida de doses maiores de nicotina, intensificando a dependência.
Recuperação e conscientização
Laura está comprometida com a recuperação, praticando regularmente exercícios como natação e corrida para ajudar na recuperação pulmonar. Após a cirurgia, superou seus próprios limites na corrida, algo considerado inimaginável durante o uso do vape.
Ela também se dedica a compartilhar sua experiência nas redes sociais, alertando jovens sobre os perigos do uso de cigarros eletrônicos e encorajando-os a parar o quanto antes.
“Nunca é tarde para parar. Quanto mais cedo você deixar, melhor, pois a nicotina vicia muito e o vape contém mais do que o cigarro comum. Se falhar, tente novamente, a vitória pode vir na próxima tentativa”, aconselha Laura.