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terça-feira, 14/10/2025

Jogos online ilegais são mais usados que os legais no Brasil, aponta estudo

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ALEX SABINO
FOLHAPRESS

No segundo trimestre deste ano, o mercado ilegal de jogos de azar pela internet no Brasil superou o mercado legal. Para cada real investido em plataformas autorizadas pelo governo, R$ 1,04 foi direcionado a sites ilegais.

Esses dados vêm do estudo “Brasil – mercado de jogos de azar online”, produzido pela empresa americana Yield Sec, que fornece análise de dados e consultoria para marketplaces online.

Por jogos de azar online entende-se apostas, cassinos e outros jogos na internet que não são baseados em habilidade, como o pôquer.

O setor legal foi regulamentado no final do ano passado e começou a operar em 1º de janeiro de 2025. No primeiro trimestre, 55% dos usuários acessaram plataformas legais, enquanto 45% foram para sites ilegais. De abril a junho, essa proporção se inverteu: o mercado ilegal teve 55% dos acessos.

“Uma mudança de 10% em apenas um trimestre é inédita. O crescimento do mercado ilegal foi impressionante”, afirma Ismail Vali, fundador e CEO da Yield Sec.

Financeiramente, nos primeiros seis meses do ano, os sites ilegais movimentaram R$ 18,1 bilhões (51%), contra R$ 17,4 bilhões (49%) nas plataformas regulamentadas, números confirmados pela Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda.

O relatório destaca que a ausência de vontade política e a falta de uma legislação eficaz permitiram que o mercado ilegal se firmasse e continuasse a crescer no país.

Segundo a pesquisa, 37% da população brasileira, ou 81,7 milhões de pessoas, interagiram com jogos de azar online no primeiro semestre, sendo que 23% (50,9 milhões) utilizaram sites ilegais.

A Yield Sec estima que os impostos arrecadados com jogos legais somaram R$ 4,46 bilhões nesse período, enquanto o montante perdido para o mercado ilegal foi de R$ 4,61 bilhões. O número de operadores ilegais no Brasil é muito maior: 2.316 contra 167 autorizados.

A preocupação aumenta com a chegada da Copa do Mundo, em junho de 2026, quando as apostas tendem a aumentar. Se não houver mudanças, o mercado ilegal pode dominar 72% do setor no terceiro trimestre de 2026.

O crescimento do mercado ilegal é atribuído a debates políticos prolongados e à fiscalização que foca apenas em plataformas regulares, ignorando o crime.

“Discussões constantes sobre regras como idade mínima, limites de depósito e restrições financeiras geraram insegurança no setor legal,” explica o estudo. Isso criou espaço para que jogadores proibidos nas plataformas oficiais apostem em sites irregulares, que não oferecem segurança.

O vício em jogos online, o uso de recursos públicos em apostas e a influência dessas plataformas nas finanças familiares preocupam as autoridades. Até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) expressou sua inquietação, motivando a criação da CPI das Bets no Congresso, que perdeu força posteriormente.

O governo federal planeja cobrar impostos retroativos das casas de jogos para aumentar a arrecadação, potencialmente gerando R$ 5 bilhões.

“Todos querem aumentar a arrecadação com jogos, o que é correto, mas precisam também enfrentar o espaço ocupado pelos criminosos. As plataformas legais requerem identificação e bloqueiam beneficiários de programas sociais, mas as ilegais recebem dinheiro sem questionar,” finaliza Vali.

O estudo aponta que a fiscalização do mercado legal foi priorizada em detrimento do combate ao crime, permitindo que plataformas ilegais prosperem.

“Nas plataformas regulamentadas, é preciso informar nome, CPF e dados bancários, além do bloqueio para usuários de programas sociais, enquanto nos sites ilegais basta depositar dinheiro sem questionamentos,” conclui o relatório.

O mercado ilegal também é majoritário em outros países. Nos Estados Unidos, em eventos como o Super Bowl, grande parte das apostas é feita em sites não autorizados. Na Argentina, 92% do mercado de jogos online é dominado por plataformas ilegais.

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