CAIO SPECHOTO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
Membros do PSB observam que João Campos, prefeito do Recife e atual presidente do partido, deseja incorporar políticos externos à esquerda na sigla, adotando uma estratégia pragmática semelhante à de seu pai, o ex-governador Eduardo Campos (que faleceu em 2014 num acidente aéreo).
O líder do partido apontou em entrevista à Folha que é fundamental ampliar o número de filiações para aumentar a votação do PSB, esclarecendo que incluir novos membros não implica que todos compartilhem das mesmas ideias. Ele também ressaltou a importância de fortalecer os defensores da democracia.
Por outro lado, João Campos destacou que, diferentemente do que seu pai fez ao atrair integrantes mais alinhados à direita devido à candidatura presidencial, o cenário atual é distinto, já que o PSB não pretende lançar candidato à presidência em 2026, mantendo o apoio ao vice-presidente Geraldo Alckmin, parceiro do presidente Lula (PT).
Durante a campanha presidencial de 2014, Eduardo Campos expandiu sua base filiada ao partido recebendo nomes da direita como a senadora Tereza Cristina (PP) e Paulo Bornhausen (PSD), membros de linhagens políticas conservadoras tradicionais no país.
Nos anos seguintes, muitos integrantes do PSB apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e acompanharam algumas ações do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Sinais recentes da nova direção de João Campos incluem as negociações para filiar o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (conhecido como JHC, ex-PL e antigo filiado do PSB), além da intenção de formar uma federação entre o PSB e o partido Cidadania – uma medida que gera visões divergentes dentro da legenda.
Essas estratégias ampliariam o potencial do PSB na eleição de deputados federais, que são essenciais para aumentar os recursos partidários e eleitorais, além de impulsionar candidatos a outros cargos.
JHC, reeleito prefeito em 2024 pelo PL, iniciou sua trajetória executiva em 2020 pelo PSB. O acordo previsto abrange a possibilidade de indicação de sua tia, Marluce Caldas, procuradora de justiça, para o Superior Tribunal de Justiça, indicação essa que dependeria do presidente Lula e reforçaria a base aliada petista caso JHC retorne ao PSB.
João Campos afirmou amizade com JHC e revelou que mantêm diálogo frequente, mas ainda não há decisão formal sobre nova filiação.
Possível federação entre PSB e Cidadania
A união dos dois partidos implicaria negociações para candidaturas em que o Cidadania possui representantes à direita do espectro político. Um exemplo é o deputado federal Alex Manente (SP), conhecido por se posicionar na centro-direita e por ter concorrido a prefeito de São Bernardo do Campo (SP) em 2024 com um vice ligado ao PL.
Manente declarou que o partido busca sempre evitar polarizações e, em entrevistas recentes, João Campos defendeu a formação de uma ampla aliança em 2026 que impeça coligações com a direita.
Essas conversas ocorreram ainda sob a presidência de Carlos Siqueira no PSB. João Campos tem informado que o partido pode superar sozinho a cláusula de desempenho, mecanismo que restringe o acesso a recursos públicos para legendas com votação insuficiente. A possibilidade de federações permite a soma das votações para obter esses recursos.
Dentro do PSB, há interpretações distintas: alguns veem as declarações do presidente como sinal de que ele não deseja formalizar alianças, preferindo fortalecer o partido individualmente e facilitar uma possível candidatura presidencial futura. Outros consideram tais falas apenas como protocolo, sem oposição clara às negociações de federação, já que estas não foram descartadas desde que João Campos assumiu a liderança da legenda.
João Campos destaca que a decisão sobre alianças é coletiva e que a maioria do partido apoia a federação, lembrando que é importante avaliar o tamanho e os resultados dessas negociações.